A Guerra do Bem contra o Mal
Não me lembro muito bem como tudo começou. Só sei que foi há muito tempo. Quando o então presidente dos Estados Unidos – George W. Bush – espalhou a notícia de que iria bombardear o Brasil, ninguém por aqui entendeu. Mas o argumento do homem mais poderoso do mundo era forte: terroristas brasileiros estavam devastando a Floresta Amazônica e ele, George Bush, não iria permitir – em nome da Democracia – que os bandidos tupiniquins fizessem isso com o planeta.No início, Bush deu um ultimato ao presidente brasileiro – um cara que tinha vindo de baixo, havia sido metalúrgico e tudo o mais – para acabar com todas as suas motosseras de destruição em massa. Em entrevista concedida a uma rede de televisão brasileira, o chefe da nação verde-amarela disse que não possuía nenhuma arma poderosa mencionada por Bush. Foi então que o presidente norte-americano teve a brilhante ideia de enviar inspetores da ONU ao Brasil, com o intuito de descobrir as tais armas.Enquanto isso, George Bush ia angariando aliados para devastar o Brasil. Em pronunciamento, o presidente americano foi taxativo: “Esta é uma guerra do bem contra o mal”. Demorei a entender que o mal éramos nós, embora os jornais fossem claros quanto a isso.Os chefes da ONU vasculharam tudo. Destruíram serras elétricas, machados, foices e até um serrote do “seu” Zé, um seringueiro do Acre que consertava móveis nas horas vagas. Até um ex-ministro foi ameaçado de morte, só porque se chamava Serra.No resto do mundo as opiniões se dividiam. Muitos países se negaram a guerrear contra o Brasil. De aliado mesmo, Bush contava apenas com o primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair. Foi então que se iniciou um boicote aos produtos genuinamente brasileiros. Primeiro foi a cachaça, que deixou de ser vendida nos restaurantes norte-americanos. Depois, o nosso jeitinho. Quem fosse pego praticando o famoso jeitinho brasileiro seria extraditado dos Estados Unidos. Até os jogadores de futebol foram obrigados a deixar os clubes em que atuavam, principalmente na Inglaterra. Não foram poupados nem os pernas-de-pau. Alegou-se que o pau era originário de árvore da Amazônia. O pior veio depois. Antes mesmo de os inspetores de armas dos Estados Unidos terminarem seu trabalho, George Bush lançou a sentença: “O presidente do Brasil tem 48 horas para deixar o País. Caso contrário, a guerra irá começar”. Em pronunciamento, o chefe da nação brasileira disse que não deixaria sua pátria. “Nem a pau”, falou, em trocadilho. Enquanto isso, tropas americanas e inglesas se instalavam em alguns países que fazem fronteira com o Brasil. Os ataques começaram no exato momento em que findou o prazo dado por Bush. Mísseis Scud e Tomahawk devastaram tudo pela frente. Primeiro foi o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente. Depois vieram a Granja do Torto, Congresso, Ministérios e outros órgãos oficiais. Em pé mesmo só ficaram a Floresta, a menina dos olhos dos Estados Unidos, e uma bandeira brasileira, armada a meio-pau. Não me lembro exatamente do momento em que fui atingido. Recordo apenas que estava no mato fazendo um xixizinho quando o Scud explodiu tudo o que estava num raio de cinco quilômetros. Mas juro que sou inocente porque não sabia que fazer xixi em mato era um ato terrorista.
This entry was posted on 7 de julho de 2005 at 12:01 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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