Tapa de Humor

Você vai brincar com a morte!? Quando um amigo me questionou o tema desta crônica, já estava decidido – talvez pela influência do Dia de Finados ou porque tem dias em que se pensa em tudo (e cá entre nós, prefiro pensar nela a ela pensar em mim). Mas o assunto veio à tona mesmo depois de acompanhar uma explanação de um pneumologista de Brasília em passagem por este paraíso que é Maceió. Para fugir da morte, ele desenvolveu um método que até então julga infalível – e pela idade em que se encontra, vem dando muito certo. Conta que nunca viu ninguém morrer comendo. E só viaja de avião se empanturrando com as guloseimas distribuídas pelas aeromoças. Nunca mediu uma viagem pela distância, mas pela quantidade de alimentos distribuídos pelas companhias. Não dispensa nem dietético. Turbulência? Haja comer amendoim e tudo o que pareça mastigável. Na falta, masca um chiclete porque também nunca viu ninguém morrer fazendo bola. Se a distribuição de comida é minguada, diz que há mais probabilidade de bater as botas em um desastre aéreo, e prefere garantir mais uns dias de vida levando seu próprio alimento. Por estar numa profissão que lida constantemente com a morte, já se acostumou a ela. Mas ressalta que não quer que ela se acostume a ele. Geralmente brinca com a idéia de os seres humanos tratarem o assunto como tabu e, não raro, já pensou em passar trote se passando por um representante do Além. Desistiu dado o preço elevado do interurbano. Defende que os arquitetos – todos eles – têm pavor ao assunto, porque nunca projetaram um prédio adaptando-o à morte. Por isso detesta a idéia de morrer num elevador. Intimamente, seria constrangedor passar para o andar de cima em pé.