Passeio no Paraíso
Perguntaram-me outro dia porque fiz a dedicatória do meu livro tal como foi publicada: "Para Isa, feminino de Paraíso". "Foi só para fazer um trocadilho?", questionara-me um leitor que acabara de ler O Pianista do Silencioso. Ri por dentro. Um riso de surpresa pela pergunta. Imaginava que se ele tivesse que questionar algo seria sobre as personagens, história ou sei-lá-o-que do livro. Em vez disso, deteve-se na dedicatória. “Não foi para fazer trocadilho”, respondi, sem me ater muito a uma resposta mais elaborada. Ao passo em que meu interlocutor dava as costas, fui enumerando os motivos que me levaram a fazer a dedicatória. Quem ainda não teve a experiência da paternidade talvez não entenda. E talvez quem já a teve até ache que é corujismo. Mas o fato é que a melhor experiência que eu tive na vida até hoje foi a de ser pai. Não apenas isso, mas de ser pai da Isa, uma criança que desde sempre me ensinou a redescobrir todas as belezas da vida nos mínimos detalhes. E redescobrir com bom humor. Porque até na tristeza ela tem lampejos de poesia. Há algum tempo, quando estava chateada com algo a ponto de se magoar, veio se lamentar comigo. “Pai, estou tão triste que as lágrimas estão passeando pelos meus olhos”. Embora tenha me ferido profundamente aquela declaração – a gente se sente meio impotente em certas ocasiões – achei linda a forma como ela descreveu o choro. Claro, vezes há em que as lágrimas dela vão mais longe e resolvem viajar por seu rostinho indefeso, tornando o “passeio” mais doloroso. Mas há também ocasiões em que o passeio é quase uma revoada de vagalumes em noite escura. Como da vez em que estávamos nos divertindo muito – os dois –, ela não parava de me beijar e me abraçar. Era como se, fazendo isso, desse abrigo a todo o seu contentamento. Depois de ouvir de mim uma declaração de amor, olhou-me comovida, voltou a me abraçar e disse, ainda encostada em meu ombro:
- Pai, estou tão feliz que as minhas lágrimas querem passear...
- Pai, estou tão feliz que as minhas lágrimas querem passear...
This entry was posted on 28 de junho de 2007 at 3:31 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Anônimo - 12:38 PM
Vejo vários comentários com espaços vazios nesta postagem. Não precisa de palavras. É só sentir a respiração, o bater do coração. E pronto. Ousadia demais da minha parte não deixar tbm o espaço em branco, mas, considero um dos textos mais belo que vi por aqui. Injustiça não deixar que vc soubesse.
Bjs,
L.
# by Anônimo - 12:38 PM
Vejo vários comentários com espaços vazios nesta postagem. Não precisa de palavras. É só sentir a respiração, o bater do coração. E pronto. Ousadia demais da minha parte não deixar tbm o espaço em branco, mas, considero um dos textos mais belo que vi por aqui. Injustiça não deixar que vc soubesse.
Bjs,
L.
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