Da série: o emprego dá cacofonia
Ninguém sabe ao certo quem é o pai da idéia. Alguns creditam-na a reis medievais; outros, a inventores ociosos da antiguidade. Há quem diga ainda que a patente foi perdida porque seu inventor teve vergonha de mostrá-la em público. Temia que o povo cagasse e andasse para ela. O fato é que quando foi criado, o penico chegou a ser comparado a grandes descobertas da humanidade, entre elas a roda – não por acaso, ainda hoje há quem sustente que o urinol continua sendo uma mão na roda. Antes de inventá-lo, no entanto, seu criador passou semanas trancado no laboratório, sem sair sequer para fazer as necessidades fisiológicas. Alegava que precisava testar sua criação, para não dar nenhuma merda depois. Por dias seguidos, recusou convite dos amigos para tomar uma bière na taverna da esquina, enquanto viam as mulheres exibirem seus cotovelos sob a luva. Também por dias seguidos, chegou a pensar em mandar todos irem a mèrde, mas comedido, limitou-se a um “vou-me já”.
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Muito mais tarde, o padre francês Louis Bourdaloue, famoso por seus discursos longos (não, Fidel Castro não tem nada a ver com isso), aperfeiçou a idéia e inventou o penico feminino, carinhosamente chamado pelas damas aristocráticas da França de boudaloue – ou le petit boudaloue, dependendo da necessidade de cada uma, claro. Chegadas a excentricidades – as francesas podem se dar ao luxo de serem excêntricas até com um penico na mão –, costumavam levar seu boudaloue de estimação para os discursos do padre Boudaloue. Podiam assim, fazer suas necessidades sem ter de perder as palavras do representante da Igreja. Antes das missas, ficavam exibindo seus boudaloue para as amigas, exaltando as qualidades da porcelana, prata, ouro ou outro material de que eram feitos. “C´est tout le même mèrde”, dizia os homens, invejosos. Alguns eram tudo o mesmo xixi, saberia-se depois. Para fugir das polêmicas, algumas Juliettes Binoches preferiam ficar em casa. Detestavam, na verdade, a dilação verbal do padre. Vem daí a expressão “mon oreille n'est pas boudaloue” – que o brasileiro tratou de traduzir para “meu ouvido não é penico”.
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