Fuja do mico

Especialistas em psicologia infantil costumam dizer que quando os filhos estão perdendo a intimidade com os pais, é sinal de que a adolescência está chegando. Surgem, dizem, as vergonhas de pagar "mico" – uma palavra que na infância significava um macaquinho inofensivo, e que na adolescência se transforma numa monstruosidade comparada, digamos, ao King Kong. Sem a Fay Wray. Desculpas do tipo "me deixe a um quarteirão da festa" ou "pai, não precisa ficar na sala disfarçado de samambaia enquanto eu converso com meu namorado" são sinais de alerta. Ainda não passei por essa experiência como pai, mas vou sair em defesa da classe. Porque o que mais fazemos é pagar mico para que nossos filhos se sintam bem. Não me lembro qual foi o último mico que paguei. Mas já tenho a data para o próximo: será na festa do Dia dos Pais, na escola da Isa. O alerta veio ontem, com o aviso da direção: "Papai (sentiu o carinho da diretora?), você é o nosso convidado especial para a festa que sua filha fez em sua homenagem. Para tanto, estamos lhe dando quatro opções de participação", dizia o bilhete. "A primeira: apresentar-se como palhaço. Caracterizado; segunda: fazer número de mágicas; terceira: se tiver algum talento para a música, cantar; e quarta: ser domador de animais".
- Vou me apresentar como palhaço, Isa – sugeri, enquanto terminava de ler o bilhete.
- Não, pai. Palhaço você já é. Não tem graça.
- Que tal mágico, então?
- Ah, não. Suas mágicas são muito fracas.
- Cantor?
- Não, não, por favor...
- Isa, não precisa levar as mãos ao rosto. Que custa? Uma musiquinha...
- Não, pai. Ufa!
- Ufa!?
- Que tal você ser domador?
- Isa, impossível. Não temos animais.
- A gente pede ao vô Luís pra trazer uma vaca de Arapiraca.
- Impossível.
- Um porco.
- Isa, um porco é quase do tamanho de uma vaca.
- Ah, pai. Então a gente pede pra ele trazer uma galinha.
- Isa, se ligue. Como eu vou fazer para domar uma galinha?
- A gente treina.
- Não, não. Galinha não dá.
- Já sei.
- Fale.
- Você doma a Lalá.
- A Lalá é uma cadela muito impossível. Acho pouco provável ela se submeter ao meu comando.
- Pai, a gente fantasia ela de leão.
- Não, Isa. Acho melhor ser palhaço.
Senti que ela ficou contrariada. Hoje pela manhã, meu telefone tocou.
- Pai?
- Oi, meu amor.
- Acho melhor você ser mágico mesmo.
Ela pensou bem sobre o assunto, imaginei – ninguém na agência entendeu a minha vibração. Nem o meu grito de felicidade, por ter escapado do mico e das garras da Lalá, a Poodle Indomável.
- Ok, filhinha. Vou providenciar a minha fantasia de Mister M.
- Pai, eu tive uma idéia.
- Qual, meu amor?
- Tu pode fazer uma mágica e transformar a Lalá num leão?

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    # by Anônimo - 10:26 AM

    Hahahahahahaha.
    Nossa que legal a Isa!
    Caro amigo, as coisas tendem a piorar ainda mais. Vá se preparando. :)

    Mas, a dúvida ficou no ar: Vc vai conseguir, realmente, transformar a Lalá em um leão? Essa eu quero assistir :)

    (Porque a minha filha tbm está crescendo igual a Isa e tem coisas que eu vou ter que aprender a sair, para a felicidade de ambas)

    Beijo!!

    Lis

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    # by Anônimo - 3:58 PM

    Quando vai ser a festa, quero não perder a sua mágica de Mister M (lembra dessa alcunha nos tempos da Tribuna?). Oia, ri a valer lendo isso, lembrando do dia que vc quase foi esfaqueado como cobaia num desses circos que passam temporadas por aqui kkkkkkkkkkkkkk Tu já contou a Isa isso? Vá se preparando porque esse mico ainda é light, viu fio? beijão em você e na Isa