O Pensador na latrina
Os amantes da arte certamente me execrarão (e creio que muitos dos que acessam este espaço sejam amantes da arte). Por isso vou logo avisando: este é um texto chulo. Os pudicos, portanto, podem ir se entreter com alguma entrevista da Dercy Gonçalves ou com piadas de papagaio. Os que ousarem seguir adiante, façam-no por sua conta e risco. Dito isto - e retiradas as crianças da sala – segue-se o relato. Outro dia, estive pensando sobre Le Penseur, de Auguste Rodin, um gênio, ressalte-se. Belíssima escultura, ícone do gênero, cercada por um ar de mistério. Quando eu era adolescente, cheguei a pensar que O Pensador não passava de um cagão. Sentadinho lá, mão no queixo, completamente nu, alheio ao mundo em volta. Por muito tempo continuei com essa imagem na mente. Até que, recentemente, fui pesquisar sobre a obra na Internet, para não deturpar a obra do Rodin. Mas o que vejo? O Pensador "retrata um homem em meditação soberba, lutando com uma poderosa força interna". E o que seria essa 'força interna' senão uma grande dor de barriga? Minhas suspeitas aumentaram quando, outro dia, vi num banheiro público uma dessas inscrições triviais que costumam infestar locais como esses. Estava lá, em letras cursivas: "Aqui, todo valente se afrouxa". Mas como a obra de Rodin se trata de arte – e arte não se explica – tentei não jogar merda no ventilador. Entretanto, não satisfeito, continuei a pesquisa, e mais uma vez me veio a confirmação: "O Pensador originalmente procurava retratar Dante em frente dos Portões do Inferno, ponderando seu grande poema". Agora me digam uma coisa: há maior visão dos infernos do que o ato de 'passar um fax' no banheiro? Minha vizinha discorda. Diz que o Gianecchini é bonito até dando descarga ou usando papel higiênico. Na minha opinião, no entanto, não há situação mais vexatória do que usar o banheiro para fazer o “Número 2”. Nenhuma criatura fica bonita em tal situação. Tanto que duvido que um casal se dê ao luxo – se é que se pode chamar isso de luxo – de se mostrar por inteiro no início do namoro. Meu caro, o ato de deixar a porta do banheiro aberta só acontece quando a relação está consolidada. A gente só se expõe ao ridículo quando o amor já é fato consumado. Antes disso, o cidadão usa todos os subterfúgios para não usar o banheiro diante da amada. Por isso que digo: o único cagão bonito é – a anos luz – o Pensador, de Rodin. E como nenhum outro ser humano é uma obra do escultor francês, é preferível, em certas ocasiões, não se mostrar por inteiro. Pense nisso.
This entry was posted on 5 de julho de 2007 at 10:25 AM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Anônimo - 6:18 PM
Muito bom, muito bom, muito bom!!!
Ó, é também conhecido como "o sério".
# by Anônimo - 9:59 AM
"O ato de deixar a porta aberta só acontece quando a relação está consolidada. A gente só se expõe ao ridículo quando o amor já é fato consumado." Certo, certo. E aí a gente mata o amor. Espera ele se consumar e o mata. Pois não há nada mais contrário ao amor que a exposição dos hábitos fisiológicos. Pra mim, porta do banheiro aberta é sempre um perigo, para a relação ou para a própria retaguarda.
# by Thiara - 7:35 PM
Nealdo,
Permita-me completar o comentário do Luiz André.
Independente de porta aberta e situações vexatórias, o cheironho q fica no ar já dá para imaginar a face desta situação.
Mas, contrariando sua conclusão sobre o Pensador, sempre achei que ele era burro. Pq desde criança, qdo me pediam para fazer cara de inteligente, eu fazia exatamente igual.
saudações
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