As Invasões Bárbaras

Um dia você chega em casa macambúzio e encontra a criança que você embalou no colo (ao som de uma inocente canção de ninar e tomando um cuidado especial para não acordá-la) deitada no colo de outro homem. Você entra desconcertado e pigarreia (uma forma especial de acordá-la). Mas quem abre os olhos é o homem refestelado no sofá, enquanto você arregala os seus, depois de ouvir do folgado um “oi, sogrão”. Você olha pra trás na ilusão de o sogrão ser outro que entrou pela porta deixada entreaberta. Mas tem a certeza de que é com você quando ele pergunta se você gostou do jogo. Uma ótima forma de fazer média, se o jogo não tivesse terminado com o seu time perdendo de cinco a zero. Pro time dele. E só depois de perguntar isso é que você percebe que ele está com a camisa do Flamengo. E mesmo sendo Vasco, você acha melhor vê-lo de camisa rubro-negra do que sem. Ainda pensa nisso quando ouve a filha, entre dormindo e acordada, convidá-lo pra balada. E imediatamente você se lembra dos seus tempos de baile punk. Depois, dos tempos de baile funk. E fica preocupado com a próxima letra que virá antes do “unk”. E seja qual for, você tem certeza de será pior. Principalmente pro seu coração de pai, que naquele momento começa a bater no ritmo de “Atoladinha” que vem de algum lugar e invade sua mente que nem novela da Globo. Abre a geladeira e percebe que o peito de peru que havia guardado para comer quando voltasse do jogo não está mais lá. E se dá conta do que aconteceu quando, sob o prato sujo (de peito de peru) encontra um bilhetinho: “Adoro sua comida, gostosa!”. E você torce para que o “comedor” não entenda nada de Português e que por um instante tenha errado a pontuação. Naquela noite você não janta. Fica paralisado diante da TV, vendo o Bial falando as notícias do Brasil e do mundo. Amargurado, decide dormir antes de rever os Gols do Fantástico para não ser humilhado novamente pelo Oi Sogrão (o apelido “carinhoso” que você acaba de botar no flamenguista invasor). Não sabe por quanto tempo permanece deitado com os olhos arregalados, contando carneirinho, burrinho, elefantinho e toda a fauna insone, quando ouve barulhos no quarto ao lado. Coincidência ou não, o quarto ao lado é o da sua filha. E mais coincidência é que não são barulhos, mas sussurros. Iguais ao que você fazia quando tentava pô-la no mundo. E que conseguiria nove meses depois. Você se levanta atordoado e corre pro quarto ao lado, doido para não encontrar a camisa do Flamengo espalhada pelo chão. Para um instante à porta, hesita por um momento e abre-a de um empurrão. E só então você percebe que tudo não passou de um sonho. No berço, sua filha dorme inocentemente. Você solta um suspiro aliviado, volta pro quarto, deita-se e tenta dormir. Mas não consegue.

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    # by Anônimo - 4:08 PM

    Não consegue porqu eum dia será verdade. A gente te que encarar MESMO. lembra o primeiro show de rock do Caíque? deve lembrar sim. não foi sonho. Fiquei louuuca na Tribuna e você ria de meu desespero... A vida é assim. A história se repete. Meu amigo, torço para que o seu genro de verdade seja um vascaíno porreta, nascido em Arapiraca, com uma história de vida tão ou mais bela que o do sogro, e sobretudo muito, muito , muito apaixonado pela Isa; a menininha que ganhou seu primeiro biquini de uma tia que ela mal sabe que existe... te cuida meu amigo. E bons sonhos. PS: Que a sua "Cinderela" tenha uma vida cor-de-rosa na vida real! Com carinho. Sua amiga Malheiros

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    # by Anônimo - 4:25 PM

    Não consegue porque um dia será verdade. A gente tem que encarar MESMO. Lembra o primeiro show de rock do Caíque? deve lembrar sim. Não foi sonho. Fiquei louuuca na Tribuna e você ria de meu desespero... A vida é assim. A história se repete. Meu amigo, torço para que o seu genro de verdade seja um vascaíno porreta, nascido em Arapiraca, com uma história de vida tão ou mais bela que o do sogro, e sobretudo muito, muito , muito apaixonado pela Isa; a menininha que ganhou seu primeiro biquini de uma tia que ela mal sabe que existe... te cuida meu amigo. E bons sonhos. PS: Que a sua "Cinderela" tenha uma vida cor-de-rosa na vida real! Com carinho. Sua amiga Malheiros

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    # by Anônimo - 9:24 PM

    Ai, meu Deus! Vou colocar uma pedrinha na cabeça de Luiza para ela não crescer mais. Essas palavas "Oi Sogrão", "gostosa", "vasco", "punk", "funk", "unks", "atoladinha" foi pesado. A minha dor atual é que Luiza, nos seus 3 anos, já diz que tem namorado e eu fico pra morrer. Manda desenhos, beijinhos de baton no papel, diz o tempo todo que "o Rafael me acha bonita". E com essa agora...

    Vou atrás de ter filhos homem para cuidar dela.

    É o melhor que eu faço.

    Parabéns pelo texto mais uma vez.

    Lis

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    # by Anônimo - 10:11 AM

    Ai, meu Deus, ainda bem que o pai de minha filha não estava vivo pra ver isso. A netinha está aqui, essa é a consolação.
    abraço, garoto