O amor está doente
Madrugada de quarta-feira, emergência 24 horas da Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Um senhor de aproximadamente 70 anos chega amparado pela mulher – uma senhora um pouco mais nova – e pelo filho. Reclama de fortes dores no peito e no braço direito. Os sintomas, avisa o cardiologista, remetem a um possível infarto. Ele recebe os primeiros cuidados e é posto em observação na enfermaria. Verificam sua pressão, que está altíssima, dão-lhe remédios, mas as dores lancinantes insistem em lhe atormentar. Ele reclama. A mulher, aparentando calma, pede para que ele tenha paciência. Aqui e ali, as suas queixas são entrecortadas pelo som contínuo do monitor cardíaco, cuja tela denuncia um batimento descompassado. Deitado e com a respiração auxiliada pela máscara de oxigênio que a enfermeira tinha acabado de lhe introduzir, ele faz um pedido: “Meu Deus, não me dê dores que não posso suportar. Por um instante, lembra-Te da condição humana de Teu filho Jesus, que sofreu todas as dores humanas...”. Silencia. O som das gotas mecânicas do monitor cardíaco invade a sala, agora ritmadas. O senhor parece adormecer, mas é incomodado pelas enfermeiras que chegaram para lhe tirar sangue. De vez em quando, o médico aparece para investigar o histórico do paciente. Traz na testa a preocupação de quem não tem respostas para o que está acontecendo. “Não há nada a fazer por ora a não ser esperar o resultado dos exames”, diz. A mulher do paciente respira impotente. O senhor de aproximadamente 70 anos acorda. “E as dores, meu velho?”, pergunta. “Passaram, passaram... mas meu corpo está em agonia”, fala com brandura. A enfermeira lhe verifica a pressão, mais uma vez alta. O médico aparece. “A pressão oscila pelo fato de o senhor está tenso”, avisa. “Tente dormir, meu velho”, diz a senhora. “Não consigo”, responde. “Conte os pinguinhos”, sugere, referindo-se ao som do monitor cardíaco. E de repente, a sala se enche de paz. Na madrugada fria, o som que sai do coração invade os corredores do hospital vazio...
This entry was posted on 6 de março de 2009 at 11:35 AM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Paulinha Felix - 12:24 PM
Que lindo!
É só o que consigo dizer...
# by Anônimo - 5:44 PM
Lindo!
é só o que eu puder dizer tb...
# by Bárbara - 10:41 PM
Meu coração, que já vem meio descompassado, também parou por alguns segundos - "Na madrugada fria, o som que sai do coração invade os corredores do hospital vazio..." Emocionante!
# by Carlos Nealdo - 3:29 PM
Ariana e Paulinha,
No momento em que presenciei essa cena, também não consegui dizer nada a não ser achar tudo aquilo bonito.
Bárbara, emocionante de fato. Na verdade, duas coisas me chamaram muito a atenção: a) no momento de dor extrema, o senhor não pediu para aliviar suas dores. Pediu apenas para que Deus lhe desse dores que ele pudesse suportar; b) a solução que a mulher encontrou para ele adormecer: "contar os pinguinhos". Sugerida assim, como quem pede a quem se ama para contar carneirinhos...
# by Patricia Bastos - 5:26 PM
Com certeza foi o passamento de uma alma evoluída
# by Thiara - 10:56 AM
Era a presença do Espírito Santo de Deus.
Q olhar atendo, Nealdo.
# by Milton Guedes - 11:00 AM
O texto tem um rítmo que você parece que sente a agonia do paciente!!
# by MaxBarroso - 4:45 PM
Ja sabemos o que pedir na hora da morte!
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