Com açúcar e com afeto

Originário da Indonésia, o Kopi Luwak (Café Civeta, na língua nativa) é considerado a bebida mais cara do mundo. Para se ter uma idéia, um quilo do “grão” custa a bagatela de US$ 1 mil. Mas se preferir, o consumidor pode tomar uma xícara pura – se é que se pode chamar assim – por R$ 189, em alguns restaurantes da Europa. O preço se justifica pela raridade do produto, tido ainda como o mais exótico do planeta. O exotismo vem do fato (sem duplo sentido) de os grãos serem processados no intestino do Civeta e depois retirados de seus excrementos. Acontece assim: o animal – uma espécie de felino quase do tamanho de um gato – come somente os frutos mais doces do cafezal, que são digeridos em seu organismo – com excreção (digo, exceção) dos grãos, que são expelidos pelo coador do bichano, junto com as fezes. Se me permitem a comparação, o Kopi Luwak é o que se pode chamar de cafezes. Mas quem experimentou jura que o sabor – uma mistura de chocolate e suco de uva – é menos ácido e amargo do que o café comum. Eu tenho as minhas dúvidas, mas fico imaginando a indústria brasileira colocando suas versões de Kopi Luwak no mercado. A Nestlé poderia faturar muito com o Nescafeze, por exemplo. O café mais exótico que tomei vai para mais de 16 anos. Eu ainda namorava a minha mulher, que tinha conhecimento do meu vício pela bebida. Mal cheguei à sua casa, ela me ofereceu uma xícara – feita com um carinho que somente ela sabe fazer. Ao primeiro gole, senti algo estranho – apesar do sabor irresistível. “Está bom?”, perguntou a Lu. “Está...”, respondi reticente. “Está bom ou não está?”, insistiu ela. “Bom está, mas está estranho”, emendei. “Estranho como?”, quis saber. “Tem um gosto esquisito no final”. “Que gosto?”. “Como se fosse salgado”. Silêncio total. Para agradá-la, continuei sorvendo a bebida, emendando um gole ao outro pra evitar o gosto final, não me importando em queimar a língua, dada a quentura do café. Ela me deixou sozinho na sala e sumiu cozinha adentro. Voltou com uma sonora gargalhada que me deixou confuso. Depois me explicou o tal gosto final: tinha posto água no fogo para fazer uma macarronada. Como eu demorara a chegar, ela desistiu da massa e aproveitou a água quente para fazer o café. Tinha esquecido apenas que já havia sal na panela. Apesar disso, foi a bebida mais doce e saborosa que eu havia experimentado até então...

  1. gravatar

    # by Paulinha Felix - 10:52 PM

    Que massa!!! Adorei, Nealdo!!!

    Eis que temos palavras por aqui!!!

    Já tinha saudades!

  2. gravatar

    # by Anônimo - 2:10 AM

    Fico feliz que o "tapa" não acabou de vez com seu humor! Mas as coisas são assim mesmo, às vezes a gente precisa pensar que perdeu para ganhar de novo.

    Desejo que seus tapas sejam sempre humorísticos, e vida longa para o blog!

    Patrícia

  3. gravatar

    # by Anônimo - 9:26 AM

    E quem foi que disse que não pode haver poesia dentro de uma xícara de café com sal?
    Lindo o texto!
    Parabéns por ele e pela poesia nele contida.

  4. gravatar

    # by Gustavo - 10:36 AM

    Algum dia todo mundo experimentou ou experimentará uma bebida estranha, mas não necessariamente ruim. Obrigado pelo retorno do blog e por nos fazer sorver goles poéticos.

    Um abraço.

  5. gravatar

    # by Acássia - 10:59 PM

    Ai ai, Nealdo.. Saudade de seu texto cômico e papo alegre. Principalmente, saudade de sua companhia tranquila e decente. Nem todos os homens são assim, percebo a cada dia. Parabéns pela família!

  6. gravatar

    # by Anônimo - 6:42 PM

    Luciana é uma mulher de sorte