Como se fosse a última
Preciso me disciplinar para fazer as minhas refeições com critério. Minto. Preciso me disciplinar para, pelo menos, fazer as minhas refeições. Morar só tem seus inconvenientes e cozinhar para um é uma ideia que me desagrada. Hoje meu café da manhã se resumiu a um pastel com um suco de maracujá, comprado de um ambulante que vendia a trabalhadores de uma construção civil em frente ao meu trabalho. O suco não tinha gosto de maracujá – mas o vendedor me garantiu que era e eu acreditei. Meu estômago nem reclamou. Deve ter acreditado também, o infeliz. E a julgar pelo cabelo que encontrei no pastel, desconfiei da origem do bacalhau. “Por um real você queria o quê?”, questionou um dos pedreiros. “Que o cozinheiro fosse pelo menos careca”, respondi laconicamente. “Meu medo é passar mal”, ainda tentei argumentar. “Se passar mal, troque de ferro. Garanto que a sua roupa vai agradecer”, rebateu um servente da obra. Engoli em seco. Digo: engoli o suco, preferindo abandonar o “peludo”. Com fome, costumo comer as ideias, não sem antes mastigá-las, na tentativa de ter alguma que preste. Mas inspirado no pastel com cabelo, definitivamente, hoje minhas ideias estão nascendo todas cabeludas.
This entry was posted on 14 de outubro de 2009 at 11:46 AM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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