O homem zangão

Houve um tempo em que a ideia de chegar aos quarenta anos me preocupava. “Difícil sair dos ‘enta’, brincavam os amigos, referindo-se ao sufixo – do qual não sou fixo – que determina o período em que o ser humano que consegue atravessá-lo pode ser considerado um herói – prometi a mim mesmo que hei de passar por esta fase nem que seja num caixão. Solteirão convicto? Ou solteirão com Victor? Desconfie. O homem que chega aos “enta” dizendo-se solteiro por opção está tentando se convencer de algo em que nem ele acredita. Ou ele está na fase de viver a juventude tardia – tentando se passar por um moleque “pegador” – ou caiu no esquecimento. Alheio. Ninguém é solteiro por opção – a não ser que seja por opção das mulheres, que o preterem por achá-lo auto-insuficiente. O destino do ser humano é ser par. Seria. Será. Foi. Sempre assim. Para mim, bem-sucedido é quem chega à meia idade com tudo definido –principalmente em relação à família, seja qual for o tipo de família que você conceba – e não usa o trabalho como desculpa de quem não tem tempo para relacionamentos. Esse é fracassado de carteirinha. De Trabalho. Não por acaso, conheço muitos homens assim com crise de meia idade. Prefiro não ter tempo para os afazeres, que se arranja em qualquer esquina em que nem há prazeres. Feliz mesmo era a moça que rodava a bolsinha. De valores. Boi, vespa... todo animal tem seu par. Até o zangão, que é morto pela Rainha sem direito a lua-de-mel e de contar pro colega que está saindo com a toda-poderosa. Entrar de cabeça no trabalho em detrimento da família é desperdício de esforço. “Mais valia eu ter feito o contrário”, dirá no futuro, quando já não haverá futuro. Por isso, pergunto: seu chefe ou seu blefe? Afinal, quem vai trocar sua fralda geriátrica, meu velho?