As Máscaras
“Meu problema é que me vesti de herói para representar um papel que não é meu”, disse-me certa vez um amigo numa mesa de bar, reclamando da árdua missão que recebera da família e das pessoas do seu ciclo social, que lhe impedia de fazer coisas tolas como chegar em casa embriagado ou deixar de almoçar com a sogra no domingo porque a mulher certamente não entenderia. “Carregar esse papel me dói muito. Quero ter o direito de errar sem culpas”, lamentava. E lamentava porque chegou a certo estágio da vida em que não podia mais fugir desse papel. Havia andando em linha reta todo o tempo e a fantasia de Super Homem já lhe estava impregnada. O máximo que ele poderia fazer era se disfarçar de Clark Kent – o que, convenhamos, não lhe renderia vantagem alguma. Estigma. Tudo não passa de estigma. Comer, usar o banheiro para fazer o “Número 1” ou o “Número 2” e sexo, por exemplo, são necessidades fisiológicas das quais não poderemos fugir. Infelizmente, a Igreja inventou a culpa para nos reprimir – embora ela mesma não tratasse de estancar tanta pedofilia sob a batina. Alguns, para fugir do jugo papal, inventaram Freud, que era uma maneira de deitar a cabeça no divã e dormir tranqüilo (mas essa história de Complexo de Édipo, Fase Oral etc. é outro assunto). O próprio Sigmund, ao se referir à grande variedade de objetos que podem ser uma fonte de prazer – sem necessariamente se ter a pretensão de se chegar ao ato sexual em si – disse que os humanos nascem “polimorficamente perversos”. Não sei se a sociedade entendeu bem isso, mas o fato é que o que teve de sexyshop faturando não está no gibi. Nem nos desenhos de Carlos Zéfiro. Como disse Nelson Rodrigues, o mundo seria mais interessante se observado pelo buraco da fechadura. E no fundo, o que fazemos é isso: observar os outros pela fresta da chave, quer seja através de blogs, de filmes pornôs ou mesmo páginas pessoais da Grande Rede. Afinal, Orkut bêbado não tem dono.
This entry was posted on 12 de novembro de 2009 at 10:34 AM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Larissa Marques - LM@rq - 11:09 AM
Conheci você no Twitter e achei o máximo, até brinquei com a pontuação também!
O seu blog é muito bom!
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