Festa no Príncipe das Marés


Chama-se O reverso da história: ficção e realidade em O pianista do silencioso o projeto de Maria Cícera dos Santos e Paula Vieira Felix da Silva para a Universidade Cidade de São Paulo (Unicid)/Academia Alagoana de Letras (AAL). O trabalho tem como objetivo “analisar a relevância dos eventos históricos – em O pianista do silencioso – para a construção da narrativa e estruturação de elementos como tempo, espaço, enredo e personagens”. Para um autor, saber-se estudado pela academia é semelhante à emoção de parir um livro. Mas não vou falar como autor – depois que se publica uma obra, ela não mais lhe pertence. Mas permita-me imaginar a alegria com que as personagens d’O pianista receberiam uma notícia dessas:


O Príncipe das Marés estava em festa. As luzes do bar de mestre Saruaba – conhecedor de amores e de mistérios do mar – iam dançar lá fora, trazendo à tona o que jazia em breu. Nas mesas servidas pelo ajudante Xié, a alegria tomava conta pela notícia contada pelo telégrafo e entregue em mãos ao velho mestre. Dava conta de estudo sobre a vida de todos eles feito por doutoras de letras, gente importante na capital das Alagoas – a terra natal do dono do estabelecimento. “Manda elas botar minhas peripécias, Saruaba, manda botar”, pedia Xié ao patrão, para deleite dos outros freqüentadores, que se riam da molecagem. Caetano, que decidira por conta própria feriar o cinematógrafo – “a fita hoje é nossa, mestre” – mantinha o olhar distante, embora a alegria lhe tomasse o rosto de assalto. Mas todos sabiam o que ele buscava com olhos tão saudosos. Ao seu lado, dona Sebastiana parecia entender a alma do outro, mas tentava mantê-lo animado. “Volta esse olhar pra dentro do bar, Caetano. Olha que festa bonita!”, pedia. A conversa era vasta. Conta-se dos cangaceiros que invadiram Rio Branco; dos soldados paraibanos que fizeram o cinema de quartel improvisado; da gripe violenta que assolara o lugar; da vida. A noite ia alta. Como alta ia também a alma de todos, regados à aguardente especialmente servida para festejar notícia tão importante. De repente, da porta do bar, uma voz faz todos mirarem na mesma direção:

- Tem lugar pra gente?

- Dago! – gritou Caetano, a alegria finalmente chegando em definitivo.

O pianista abriu o velho sorriso e olhou para Biana, com quem chegara de mãos dadas. Ainda à porta do Príncipe das Marés, a moça olhou para Dago, soltou seu sorriso de estrela e meteu-se bar adentro, faceira. “Agora a nossa festa está completa”, sentenciou Saruaba. E naquele momento, a alegria se eternizou em doses de amizade e cachaça...

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    # by Lenilda Luna - 6:49 PM

    Eu também quero fazer parte dessa festa!!! Parabéns, Nealdo. Voce merece como autor e como pessoa. Reconhecimento mais do que justo!

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    # by Adnael - 12:59 AM

    Você né fraco não. Quero ver mais e mais sucesso que você merece.