A princesa que fiz coroar


Você descobre que sua filha cresceu quando pergunta o que ela quer ganhar no Dia das Crianças e ela responde: “uma assinatura da Capricho”. É nessa hora que você passa em revista os momentos vividos por ela e descobre que tudo é página virada. Que, caprichosamente, o tempo passa, e o que ficou para trás é como aquele exemplar velho de uma edição que você folheia no consultório, mais interessado nas imagens bonitas do que nas notícias que julga desinteressantes. Então você se pega pensando nas várias fases da vida de sua filha, e uma série de imagens vai se formando em sua mente. Imagens tão lindas que parecem tratadas com Photoshop – se no cérebro existisse um. Lembra-se da primeira boneca que lhe deu de presente e que ela mantém até hoje, com um cuidado de mãe zelosa; dos primeiros passos; das brincadeiras repetidas que a faziam rir etc. E vai se dando conta de que ela começa a trocar o Batom Garoto com que lambuzava a boca pelo batom com que delineia os lábios – ah, garota! Você tenta maquiar a realidade, mas a sua filha se maquia bem melhor, fazendo com que a realidade se lhe apresente chorosa, borrando o rímel e lhe dizendo que nem tudo tem a perfeição dos anúncios da H.Stern. Que o bom mesmo é você começar a se resignar como as usuárias de Jequiti. E que é burrice querer que o tempo não passe, porque ele vai passar rápido como um jornal de ontem. Então você fica feliz por estar acompanhando o crescimento da sua filha e se sente realizado por cada fase belíssima da vida dela. E se dá conta, com um sorriso bobo no rosto, que o melhor ainda está por vi. Então você se vê pegando o telefone, discando um número e ouvindo do outro lado da linha: “Editora Abril, em que posso ajudar?”. E você diz que quer fazer uma assinatura da Capricho. “É para o senhor ou para presente?”, quer saber a moça. Você pensa por uns segundos, fita o vazio e responde: “Para presente e para o futuro”. Porque o passado está guardado na mente como um tesouro cujo mapa está desenhado no coração.