Pecado Original

Há determinados assuntos que me despertam a atenção, embora pareçam tolos ou inúteis para alguns. Um deles diz respeito à origem da maçã como símbolo do pecado. Não sei como a história começou, só sei que terminou mal, pelo menos para Adão e Eva. Mas também sei que criança adora Maçã do Amor com a mesma inocência do casal bíblico antes da expulsão do Paraíso – ou pelo menos antes do aparecimento da Serpente. Ou seja: como pode um fruto ser símbolo do pecado e da inocência ao mesmo tempo?

Minha amiga Danielle Silva, estudante de jornalismo e estagiária do jornal em que trabalho, tem uma explicação para a origem libidinosa da fruta. Segundo ela, há milhares de anos, quando a Close Up nem sonhava em deixar puro o hálito do homo sapiens, a maçã era usada como higienizadora bucal. Os antigos se refestelavam com tudo que era comida e depois, como quem pega escova e pasta de dentes, simplesmente comiam uma maçã. Estavam, assim, matando dois coelhos com uma só cajadada: além de limpar os dentes, ainda comiam a sobremesa.

Nossa estagiária vai ainda mais profundo – literalmente – na questão. Ela ressalta que naquela época, como o homo sapiens não era tão sapiens assim, entendia por comida qualquer coisa, de alimentos ao ato sexual. Então bastava ir para a cama (imaginemos que naquele tempo havia cama, nem que fosse de pedra) para saborear o fruto de sobremesa.

Olhando por esse lado, a Serpente nada mais fez, ao entregar a fruta para Adão e Eva, do que contribuir para a limpeza bucal do casal. Portanto, se há alguém inocente nessa história, é a Peçonhenta, que apenas tomou uma medida profilática. E ressalte-se a inteligência da Serpente – que em assunto bucal devia ser cobra. Imaginemos que, se em vez de uma maçã, ela tivesse entregado ao casal uma melancia ou, pior, uma jaca. Hoje certamente seríamos filho da indigestão.

Com a modernidade, a maçã – isso tudo na visão da Danielle – foi sendo substituída por cremes dentais de tudo quanto é sabor, menos de maçã. Agora, quando se quer fazer a limpeza dos dentes, é só lançar mão da escova e da pasta. Ou do fio dental, que no Brasil também é sinônimo de biquíni cavado. Ou seja: antigamente, depois da comilança, uma maçã ao final era o bastante. Agora, pelo menos em nosso País, muitas vezes um fio dental é motivo para um banquete.