Uma Babá Quase Imperfeita

Outro dia estava vendo “Uma Babá Quase Perfeita” – em que um pai veste-se de mulher para se passar por baby sitter em seu antigo lar, depois que a ex-esposa o impede de ver as crianças – e fiquei imaginando como é difícil achar uma babá a contento. Longe de Hollywood, a realidade é outra, sem maquiagem nem disfarces – e não é todo dia que um Robin Williams aparece na sua casa vestido de mulher querendo cuidar da sua prole. E se aparecesse, estaria dispensado, oras.

Escolher babá é mais difícil do que encontrar uma namorada, porque nem toda namorada tem que necessariamente ser a mãe dos seus filhos, ao passo que a babá sim, vai pelo menos (tentar) cuidar deles. Com um agravante: enquanto a mulher que você acha que será a mãe dos seus rebentos lhe é apresenta aos poucos, num processo ininterrupto de conhecimento, uma babá lhe chega de supetão, no máximo com referência do emprego anterior – quando há emprego anterior.

Quem é pai – principalmente de primeira viagem – sabe do que estou falando. O medo de deixar aquela criaturinha indefesa aos cuidados de alguém estranho é de fato grande. Não é qualquer uma que merece tarefa tão melindrosa. Amigo meu diz que babá que se preze tem que ter mais qualidades do que a mãe dos seus filhos (ele custou a encontrar uma, mas a sorte lhe bateu à porta. Menos sorte teve sua mulher, porque a babá tinha tantas qualidades que tomou o lugar dela).

Quando a minha filha nasceu, passei por essa busca angustiante. Nos dois primeiros anos, foram dezenas de babás que passaram lá por casa. Algumas demoraram meses, outras semanas. Há casos de muitas que só conseguiram permanecer no emprego alguns dias. Outras, nem isso. Uma das últimas, que fui buscar no terminal rodoviário vinda do interior (com recomendações de avós, tias, sobrinhas e parentes até de terceiro grau), bateu o recorde.

Ainda no percurso entre a rodoviária e a minha casa tratei de fazer a costumeira entrevista, essencial para se descobrir uma boa ou má babá. Mentalmente, ia lhe dando uma pontuação pelas respostas – positiva ou negativa, dependendo do que a pretendente ao cargo dizia:

- Você gosta de criança?
- É, né... – respondeu ela, com voz fastidiosa, enquanto eu anotava menos cinco pontos na ficha da sujeita.

Decidi dar uma nova chance:

- Você tem filhos?
- Quatro.
- Ah é? E com quem eles ficaram?
- Com a minha mãe.
- Tem saudades deles?
- Não... – menos dez pontos.

Caso perdido, pensei. Mas decidi dar outro crédito, já que a mulher havia sido recomendada pelas avós da Isadora.

- Costuma ir ao médico?
- Vou sim.
- Quando foi a última vez em que foi?
- Há dois meses.
- Fazer o que?
- Uma curetagem – alerta geral, pensei.
- Curetagem!?
- É que eu abortei.
- Naturalmente?
- Não. Tomei umas ervas – respondeu ela, com a maior tranqüilidade do mundo, enquanto eu queimava sinal vermelho e quase atropelo uma criança que fazia malabarismo no cruzamento.
- Você abortou por que quis!? Não ficou preocupada?
- Ah, não, seu menino. Já sou acostumada. Esse é o quinto.

Barulho de pneu rasgando o asfalto. Pensei em voltar pra rodoviária ali mesmo, mas àquela hora já não havia mais ônibus pro interior.