Tapa de Humor

(crônica para ser lida ouvindo aquela musiquinha da cena do chuveiro de “Psicose”, de Alfred Hitchcock):

Confesso: até um dia desses, eu era fascinado por filme de terror, a ponto de assistir à mesma fita várias vezes. Sou daqueles que vão ao cinema só para ficar olhando a platéia se assustar. Fico sentado quietinho, espreitando em minha volta, na expectativa de que alguém pule da cadeira, jogando a pipoca e o refrigerante a metros de distância ao primeiro sinal de susto.

De tanto gostar, assistia a filme de terror até mesmo quando já sabia o final. “O Sexto Sentido”, por exemplo, soube como terminava a história ainda na fila da pré-estréia, porque um amigo, que assistira à primeira sessão, tratou de me antecipar os fatos. Claro que não gostei. Mas dei o troco na mesma moeda e até um dia desses ligava pra ele para contar o final dos filmes que eu via.

Meu desinteresse por filmes de terror foi aumentando quando me mudei para uma casa vizinha a um centro espírita. Até aí nada de mais. O problema era o vizinho dos fundos. Os vizinhos, para ser exato, já que eram muitos. E todos mortos. Sim, porque meu quintal vai dar para um cemitério. Já botei um aviso na porta informando que não empresto nada a nenhum vizinho. Principalmente o dos fundos.

Quando soube do meu novo endereço, um amigo me disse que minha casa é perfeita para uma festa. De Halloween. “Pelo menos a gente economiza nas fantasias”, defendeu ele. O que me consola é que meu vizinho da frente é uma igreja. E o da direita é o sogro de um deputado. Se bem que falam que o que mais existe na Assembléia Legislativa é funcionário fantasma.

Como não sou tão corajoso, tratei logo de me desfazer dos meus filmes de terror. Prefiro me assustar ao vivo. Quer dizer: aos mortos. Até minha coleção de filme de terror trash – que eu considerava um luxo – foi pro lixo.

Que me perdoe o Shyamalan, mas nem “O Sexto Sentido” escapou do cesto. Considerei que não fazia sentido mantê-lo. Nem ele nem os outros. Inclusive “Os Outros”...