Para Um Bom Entendedor

Sentado diante do computador, ele refletia sobre o avanço nas comunicações proporcionado pela Internet, quando o filho tentou puxar assunto online, através de um programinha considerado a febre da era da informática.

- E aí, k reca! Blz?

Ele deu de ombros. Sabia que a Internet viera para encurtar distâncias, aproximar povos. Mas ali, diante do computador, não conseguia entender nada do que o filho queria dizer.

- Seu teclado deve estar com problemas, filho. Suas palavras estão faltando algumas letras...

- Q nada, mermão! Tá td ok.

- O que isso significa?

- Pow, brow! Use a kbça.

- Usar o quê!? Fala direito, Júnior!

- K cete, véio!

- Traduza, por favor.

- C guinte, brow...

- Júnior, pelo amor de Deus! Tente falar uma palavra por inteiro, por favor!

- Mermão...

- O que diabos é mermão, Júnior!!??

- PQP, koroa...

- Coroa é com “c”, Júnior. E o que diabos vem a ser pqp?

- S qce, pai.

- Olha aí, conseguiu! Pai está escrito correto, filho – ironizou.

- Vô C direto...

- Então comece escrevendo correto.

- Vô dar um rolé com a gta. Desenrola o K rro...

- Desenrolar o quê?

- Ah, tbm qro $, flw?

- Não conheço esse novo índice econômico. Qro!? Muito estranho para mim... E não sei o que diabos é flw...

- Ah, véi...

- Velho, Júnior. Velho.

- É a linguagem da galera, brow...

- Ah, tá, entendo. Quer dizer, entendo o porquê de não haver entendimento entre nós, filho.

- E aê? Rola a grana?

- Não posso filho...

- ?

- Seguinte: hoje vou sair no carango com uma cocota levada da brega, com a minha turma supimpa pra dedéu. Estamos transando um lance, entende? Coisa assim, prafrentex. Resumindo: hoje vou estourar a boca do balão. Joinha?

- Q é isso!?

- É a minha linguagem, Júnior.