O amor custa caro
Dizia que tinha uma dívida de morte com a mulher. Na verdade, com o cartão de crédito em que ela trabalhava, já que fora uma cobrança que o fizera conhecê-la. De repente, viu-se encantado com o jeito gerúndio dela de ser. Encantava-lhe o fato de poder estar namorando, estar se casando ou até estar se ferrando, desde que fosse no gerúndio.
Entre namoro e casamento foi um pulo – não mais do que umas trocas de frases. “Amor, quando é que a gente vai estar casando?” lhe soou como o pedido de casamento mais apaixonado que alguém já lhe fizera. Não só serviu para estar se casando, como para estar fazendo filhos. Quatro no total: Fernando, Armando, Dilermando e Gerúndia, a caçula.
Entre namoro e casamento foi um pulo – não mais do que umas trocas de frases. “Amor, quando é que a gente vai estar casando?” lhe soou como o pedido de casamento mais apaixonado que alguém já lhe fizera. Não só serviu para estar se casando, como para estar fazendo filhos. Quatro no total: Fernando, Armando, Dilermando e Gerúndia, a caçula.
No início, até as brigas eram apaixonantes:
- Hoje você vai estar dormindo no sofá! – dizia ela, para delírio do marido.
Ele não apenas dormia feliz como fazia questão de ficar repetindo na memória a frase dita no momento de raiva. E quando esquecia, procurava brigar novamente para ouvir as benditas palavras, que muitas vezes mudavam de sentido.
- Me faça raiva para ver se você não vai estar apanhando!
Apanhava com prazer – e no gerúndio, porque dizia que as pancadas eram mais suaves, apaixonadas, algo que ele só encontrava naquele relacionamento. Os amigos percebiam os hematomas. No início agüentaram calados. Depois, nas reuniões de mesa de bar, foram soltando alguma indireta.
- Melhor sair dessa. Logo, logo seus filhos “vão estar crescendo” e você vai “estar ficando velho” – imitavam.
- Hoje você vai estar dormindo no sofá! – dizia ela, para delírio do marido.
Ele não apenas dormia feliz como fazia questão de ficar repetindo na memória a frase dita no momento de raiva. E quando esquecia, procurava brigar novamente para ouvir as benditas palavras, que muitas vezes mudavam de sentido.
- Me faça raiva para ver se você não vai estar apanhando!
Apanhava com prazer – e no gerúndio, porque dizia que as pancadas eram mais suaves, apaixonadas, algo que ele só encontrava naquele relacionamento. Os amigos percebiam os hematomas. No início agüentaram calados. Depois, nas reuniões de mesa de bar, foram soltando alguma indireta.
- Melhor sair dessa. Logo, logo seus filhos “vão estar crescendo” e você vai “estar ficando velho” – imitavam.
Ele não ligava. Preferia a vidinha gerúndia em que vivia. Até o dia em que a própria esposa decidiu pedir o divórcio. No gerúndio, para desespero dele.
- Vou estar me separando...
Ele morria por dentro. Não pela separação em si, mas pela frase. Imaginava outros ouvidos recebendo todos os gerúndios da amada. E isso o matava. Voltou a contrair dívida no cartão. E com o tempo voltou a receber ligações de cobranças, fato que lhe alentou.
No fundo, tinha esperança de encontrar um novo amor. E estar vivendo novamente.
This entry was posted on 23 de janeiro de 2006 at 3:22 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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