Tapa de Humor

Aconteceu tudo de forma muito repentina. Depois de alguns anos de uma relação que ela julgava inabalável, eis que estavam lá todos os motivos da crise: toalha molhada sobre a cama, o creme dental largado na pia espremido ao meio – e sem tampa –, a cueca jogada no chão do quarto e o piso do banheiro completamente molhado. O acento do vaso sanitário encharcado foi a gota d’água. Não necessariamente de água potável.

- Não agüento mais – gritou para o marido. – Você está completamente mudado.
- Mas não foi você mesma que disse que eu tinha que mudar!?
- Mas não era pra mudar pra pior!
- Não entendo vocês mulheres. Passam o tempo todo pedindo pra gente mudar. Quando a gente muda, vocês reclamam.
- No começo você era diferente. Era romântico. Vivia me enchendo de música...
- Mas eu ainda faço isso!
- E desde quando “Estou ficando atoladinha” é música? Tô cheia.
- Tá vendo?
- Tá vendo o que?
- Que você continua cheia de música...
- Francamente.
- Você é muito exigente.
- Sou sim. Principalmente quando você esquece a data do meu aniversário.
- Ah, isso foram poucas vezes.
- Nada mal para quem se lembrava até do aniversário da mamãe, né?
- Todo mundo tem falhas...
- Eu sei. Você é a prova disso.
- Eu prometo me corrigir.
- Esta é a milésima vez que diz isso. Você já prometeu procurar suas coisas direito no armário; não me chamar de gorda; prestar mais atenção no que falo, em vez de ficar diante da TV vendo futebol e essas corridas que não levam a lugar nenhum... Ah, prometeu também não pegar no sono depois de a gente fazer amor. Quer que eu lembre mais alguma coisa?
- Não seja injusta.
- Eu!? Injusta!?
- Você sempre diz não quando pergunto se quer conversar depois do sexo.
- E você não insiste.
- Deveria?
- Saiba que nem sempre o que digo corresponde ao que estou pensando.
- E por que não diz o que pensa?
- Porque quero que você insista, seu burro!
Ele decidiu abandonar a conversa por ali. Chegou a conclusão que não daria para dialogar com alguém que dizia uma coisa pensando outra.