Nos Bastidores da Notícia

Vida de repórter tem lá as suas vantagens. Apesar de o trabalho ser tenso na maioria das vezes, a camaradagem que se estabelece entre as equipes de rua é recompensadora. Principalmente quando é preciso viajar para captar alguma matéria num ambiente inóspito. Nessas horas, um bom entrosamento garante não apenas o bom humor durante a viagem como também um resultado satisfatório. Há dez anos, quando estava começando na profissão, fui enviado ao Sertão de Alagoas para fazer uma reportagem sobre um retiro espiritual no meio do nada. Não se tinha muita informação sobre onde e como fazer para chegar até lá. A ordem era pegar a estrada de madrugada e tentar achar, perguntado aqui e além, à medida que fosse aparecendo alguém pelo caminho. Não sei porque cargas d´água, nesse dia o nosso repórter fotográfico estava com cara de poucos amigos, apesar de normalmente ser um cara bonachão. Preferimos – eu e o motorista – ignorar a rabugice dele e tirar onda da situação. Já que o tema da matéria era espiritualidade, decidimos ser espirituosos. O problema é que à medida que nos distanciávamos de Maceió, seu mau humor aumentava. E ficou muito pior quando descobrimos que estávamos perdidos. Ninguém sabia informar onde diabos ficava o tal retiro. E como estávamos no meio do nada, sem que celular algum desse sinal de vida, não sabíamos o que fazer. O tempo passava, o sol de 40 graus do Sertão batendo no quengo e o nosso repórter fotográfico lá, indignado. A solução foi continuar perguntando.

- Vamos lá. Quem tem boca vai a Roma – argumentei.

- Tá errado – rebateu ele, com seu mau humor.

- O que?

- O ditado.

- Por quê?

- Não é quem tem boca vai a Roma.

- Mas todo mundo fala assim.

- Mas todo mundo fala errado. O correto é quem tem boca vaia Roma.

- Tá, mas não posso vaiar Roma, até porque eu não sei nem pra que lado fica Roma. E o Papa que me perdoe, mas não estou interessado em Roma neste momento. Eu quero achar o retiro.

Voltei-me para o motorista:

- Vamos lá. Quem não tem cão, caça com gato.

- Também tá errado – voltou se intrometer.

- O que?

- O ditado.

- O que foi desta vez?

- Não é “quem não tem cão caça com gato”. É “quem não tem cão, caça como gato”, entendeu?

O motorista acompanhava rindo a discussão que não levava a lugar nenhum. Muito menos ao retiro.

- Você é que nem mulher: difícil de agradar – disse o motorista ao nosso amigo.

Essa quem não entendeu foi eu.

- Por que é tão difícil agradar a uma mulher?

- Ah, você tá nessa idade e ainda não descobriu? – respondeu o rabugento.

- Nem venha. Não perguntei pra você – respondi.

E voltando-me para o Senhor do Volante, quis saber o motivo.

- O cara pode ser um Príncipe Encantado, elas reclamam justamente do fato de o cara ser encantado.

- Pode crer – me convenci.

Já passava do meio-dia, a fome atormentava o nosso espírito, o sol sufocante nos deixava atônicos e o humor do fotógrafo já tinha virado fumaça há séculos quando, do nada, apareceu um sertanejo na beira da estrada. Chapéu de palha na cabeça, matinho no canto da boca e o ar de quem não estava nem aí (e olha que nessa época a Luka nem pensava em fazer sucesso). Decidimos que daquela vez, quem perguntaria seria o Mister Humor. Não deu outra, nos aproximamos do senhor, o motorista desligou o carro e o nosso amigo foi imediatamente perguntando:

- O senhor sabe onde fica um retiro espiritual por aqui?

O sertanejo levantou a cabeça, tirou o matinho da boca, olhou pro nosso amigo e respondeu:

- Quem tira!?

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    # by Anônimo - 10:50 PM

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Essa foi fogo hauhuahauuahau. Pense no humor do cara e depois de uma resposta dessa do sertanejo ele fez o que????? Enfiou a câmera na bolsa e ficou quietinho não foi? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Que onda da poxa. Não gostei dessa história da mulher RUM. Cada uma. Beijo Neoooooooooooooooo