Pequenas anotações de viagem
Às quatro e meia da manhã, o aeroporto internacional Zumbi dos Palmares é um grande vão inabitado, imagem que contrasta com as cenas inicias de “Love Actually”, com aquelas pessoas se abraçando e se beijando, numa proposta “o amor está em toda parte”, inclusive – no caso do Zumbi dos Palmares – na cama, dormindo. No check in, a atendente me olha estranho e pergunta se levo alguma coisa inflamável ou explosiva na mala. Em centelhas de segundos, minha mente debulha um rosário: Bin-Laden-Torres-Gêmeas-Atentado-Homem-Bomba. Homem Bomba!? Controlo o meu pavio curto e respondo que o único bem inflamável que possuo é o meu salário, que já havia virado fumaça há tempos. Ela ri e me deseja boa viagem. Finjo que procuro algo e ponho a mão na cintura. Ela faz ar de curiosidade e me pergunta se há algum problema. Esqueci meu cinto de dinamite, respondo (por algum tempo fico imaginando uma teia de comunicação através dos rádios-amadores diante daquela declaração). Entro pelo portão de embarque sem olhar para trás, com uma ligeira curiosidade que, assim como eu, é passageira. A diferença é que sou da Classe Econômica. Em vez de observar a comissária de bordo explicando os procedimentos de emergência em caso de acidente, me arrisco em olhar através da janela, mas tenho a visão encoberta pela asa da aeronave. Em tinta vermelha, um aviso bilíngüe alerta aos distraídos: Não Pise/Not Step. Normal se o aviso não estivesse afixado na asa do avião. Logo me ponho a imaginar qual o maluco que em insana consciência seria ousado o bastante para pisar naquele lugar. Principalmente se o avião estiver em vôo. Ao meu lado, dois jovens discutem temas corriqueiros.
- Quem fiscaliza o Inmetro? – questiona um deles.
O outro fica sem resposta diante de pergunta que exige, no mínimo, dois pesos e duas medidas. Prefiro dormir a acompanhar o desenrolar da conversa. Às 9h50 da manhã, o aeroporto internacional de Guarulhos é uma torre de babel de vozes. Pessoas se abraçam e se beijam e por um momento penso ser personagem de “Love Actually”. Aquele bonitão lá. Com sorte, alguém estará me esperando no saguão. Olho em volta e nada. Estou a ponto de desistir quando sinto alguém me tocar no ombro. Imediatamente, o som de “Christmas Is All Around” sobe na minha mente. Viro-me devagar. Um baixinho careca e sorridente segura uma plaquinha onde está escrito o meu nome. A música pára. Ao seu lado, um jornalista de Pernambuco – outro convidado para o evento que terá cobertura da imprensa de todo o País – parece impaciente. Seguimos em silêncio os três, de vez em quando comentando uma notícia ouvida no rádio do carro. No hotel nos juntamos a outro grupo. Os assuntos surgem. Fala-se mal das deficiências que há em todos os jornais. Chefes são o prato principal (que o meu não leia isto). À noite, no jantar, já estamos à vontade. Os chefes, com as orelhas ardendo. A viagem de volta é tranqüila. Apanho um táxi do hotel até o aeroporto. Divido espaço com um ginecologista cearense que havia participado do evento como convidado. Espirituoso. Vai ver que é devido à profissão, penso. No caminho, vai me contando experiências da profissão. Diz que um humorista nacionalmente conhecido, contrariado com a decisão da mulher não ter mais filho, vai até seu consultório para reclamar:
- Doutor, me casei com ela no civil e no religioso. Portanto, 50% dela é meu, assim como 50% meu é dela. Então faça o seguinte: ligue apenas uma trompa. Se eu tiver a sorte de acertar na outra, pimpa, corro pro abraço.
Não sei qual foi a decisão do médico, porque uma notícia no rádio do carro desvia a nossa atenção. “Fidel Castro é considerado o político mais rico do mundo, segundo a revista Forbes”.
- Também, economizou esse tempo todo com roupa e barbeador! – rebate o ginecologista, para delírio do taxista, que quase joga o veículo Tietê abaixo.
Depois, olha pra mim e aconselha:
- Ainda há tempo de você enriquecer. Compre logo um uniforme e vá poupando o dinheiro da roupa.
Reflito sobre a dica. E por um instante me vejo voltando para Alagoas na Classe Executiva...
- Quem fiscaliza o Inmetro? – questiona um deles.
O outro fica sem resposta diante de pergunta que exige, no mínimo, dois pesos e duas medidas. Prefiro dormir a acompanhar o desenrolar da conversa. Às 9h50 da manhã, o aeroporto internacional de Guarulhos é uma torre de babel de vozes. Pessoas se abraçam e se beijam e por um momento penso ser personagem de “Love Actually”. Aquele bonitão lá. Com sorte, alguém estará me esperando no saguão. Olho em volta e nada. Estou a ponto de desistir quando sinto alguém me tocar no ombro. Imediatamente, o som de “Christmas Is All Around” sobe na minha mente. Viro-me devagar. Um baixinho careca e sorridente segura uma plaquinha onde está escrito o meu nome. A música pára. Ao seu lado, um jornalista de Pernambuco – outro convidado para o evento que terá cobertura da imprensa de todo o País – parece impaciente. Seguimos em silêncio os três, de vez em quando comentando uma notícia ouvida no rádio do carro. No hotel nos juntamos a outro grupo. Os assuntos surgem. Fala-se mal das deficiências que há em todos os jornais. Chefes são o prato principal (que o meu não leia isto). À noite, no jantar, já estamos à vontade. Os chefes, com as orelhas ardendo. A viagem de volta é tranqüila. Apanho um táxi do hotel até o aeroporto. Divido espaço com um ginecologista cearense que havia participado do evento como convidado. Espirituoso. Vai ver que é devido à profissão, penso. No caminho, vai me contando experiências da profissão. Diz que um humorista nacionalmente conhecido, contrariado com a decisão da mulher não ter mais filho, vai até seu consultório para reclamar:
- Doutor, me casei com ela no civil e no religioso. Portanto, 50% dela é meu, assim como 50% meu é dela. Então faça o seguinte: ligue apenas uma trompa. Se eu tiver a sorte de acertar na outra, pimpa, corro pro abraço.
Não sei qual foi a decisão do médico, porque uma notícia no rádio do carro desvia a nossa atenção. “Fidel Castro é considerado o político mais rico do mundo, segundo a revista Forbes”.
- Também, economizou esse tempo todo com roupa e barbeador! – rebate o ginecologista, para delírio do taxista, que quase joga o veículo Tietê abaixo.
Depois, olha pra mim e aconselha:
- Ainda há tempo de você enriquecer. Compre logo um uniforme e vá poupando o dinheiro da roupa.
Reflito sobre a dica. E por um instante me vejo voltando para Alagoas na Classe Executiva...
This entry was posted on 11 de maio de 2006 at 2:53 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Anônimo - 4:30 PM
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, mais uma vez ARRASOU NEOOOOOOOO. Tomara mesmo que seu chefe não leia viu hihihihiihi. E quanto a Sampa, irei visitá-lo quando você for viu. Beijooooooooooo
# by Anônimo - 10:16 AM
Carlos Nealdo tem esse humor leve e tranquilo ao observar os fatos mais corriqueiros da vida. Eu fiz hidroginástica com ele um tempo, e tomava cuidado com o que comentava na piscina. Eu dizia que ele era um espião entre as mulheres e transformava todas as nossas conversinhas amenas em crônicas ótimas nos jornais do dia seguinte.
# by Anônimo - 9:48 AM
Espião de hidroginástica! kkkkkkk
Abs, Rama.
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