Tapa de Humor

O lamento veio de um amigo, cujo gosto musical é indiscutível. Segundo ele, 80% das músicas de todo o mundo é de sofrimento. “Ou falam de dores de cotovelo ou de alguém que perdeu o amor ou de alguém que quer ganhar um amor”. É batata, garante. Por via das dúvidas, decidi eu mesmo prestar mais atenção nas músicas que tocam nas emissoras locais. E eis que aparecem Roberto Carlos e uma dupla de sertanejos cantando o amor que perderam. “Arraste a Cadeira” era o “originalíssimo” título da canção. Um a zero pro meu amigo. Mudo de estação e um cantor de forró solta gemidos querendo voltar pra ex-mulher. Dois a zero. Na outra emissora, uma moça diz que “a lua lhe traiu” (São Jorge ficou sabendo disso?). Via satélite, uma funkeira diz que tá ficando atoladinha. Essa deu empate, porque não sei se ficar atoladinha, no caso dela, é lamento. Alguém me ajuda? Até percorrer todo o dial, só ouço vários sofrimentos em forma de melodia. Pela teoria do meu amigo, o placar já estaria no mínimo uns dez a zero... A única que não tratava de dor era uma da Vanessa da Matta, cujo título era, ironicamente, “Ai, ai, ai”. O dono da Teoria do Sofrimento Melodioso, tradução de Melody Suffering Theory —o inglês é por minha conta e risco, mas risco do que conta— diz que chegou a conclusão sobre as músicas depois de, estressado pelos muitos problemas que estava tendo ao longo do dia, decidiu ouvir algo. Foi ligando o rádio e a Ivete Sangalo alertando:

— Então não me conte os seus problemas...

Fazer o quê?