Um sujeito indo e voltando
Sujeito estranho era o Zé de Lima. De uma hora pra outra, deu pra só falar através de palíndromo, para desespero de amigos, mulher e filhos. Não se importava com as críticas porque dizia que era um marido exemplar. Indo e voltando. Principalmente quando se tratava das palavras. Alheio ao convívio familiar, sempre inventava uma desculpa quando era chamado à conversa.
- Hoje vou visitar a mamãe, vamos? – sugeria a mulher.
Ele se recusou. A mulher quis saber o por quê.
- Anotaram a data da maratona – respondia ele, o olhar fixo no Esporte Espetacular.
E contrariado por ter sido incomodado em plena atividade televisiva, ordenou a empregada que o chamava para o almoço:
- Eva, asse e pape essa ave.
Para se vingar, a mulher despediu a empregada. Contrataram outra. Chamava-se Madalena. Uma santa. Como não sabia o que era palíndromo – na verdade pensava ser uma doença contagiosa – não se incomodava com as frases do patrão. Achava-o esquisito, apenas. Mas até aceitou ir ao supermercado com ele, que não perdeu a ocasião para exibir suas qualidades lingüísticas.
- Me vê se a panela da moça é de aço, Madalena Paes, e vem.
No dia em que um ex-presidente do PSDB visitou a Central Única dos Trabalhadores ele passou o dia inteiro tagarelando no trabalho.
- Tucano na CUT! Tucano na CUT!
Os amigos no trabalho já não agüentavam mais a sua mania. Estavam cansados de ouvir coisas do tipo “Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos”. Aos mais íntimos, reconhecia:
- Ato idiota!
O primeiro choque veio quando soube que o filho estava metido com drogas. A mulher lhe pôs a culpa. Era um pai ausente. Ele chamou o filho à conversa.
- O pó de cocaína mata maníaco cedo, pô! – gritava.
À mulher, tentava justificar a fragilidade do filho:
- Erro comum ocorre.
Foi a gota d´água. A mulher pediu a separação. Ele não se deu por vencido. Inventou a desculpa de que iria morar em Roma, tentando mostrar uma força inexistente. E justificou o motivo da viagem:
- Roma me tem amor.
- Duvido – respondeu a mulher.
- O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro – emendou ele.
Quando os amigos lhe perguntavam o motivo da separação, ele respondia laconicamente:
- A vaidosa moça é de fé de aço, mas odiava.
Mudou-se. Não para Roma, mas para um modesto apartamento na periferia da cidade, a uma quadra de sua antiga casa. Quem descobriu foi a ex-mulher, ao ler uma correspondência endereçada a ele: Zé de Lima, rua Laura mil e dez.
- Hoje vou visitar a mamãe, vamos? – sugeria a mulher.
Ele se recusou. A mulher quis saber o por quê.
- Anotaram a data da maratona – respondia ele, o olhar fixo no Esporte Espetacular.
E contrariado por ter sido incomodado em plena atividade televisiva, ordenou a empregada que o chamava para o almoço:
- Eva, asse e pape essa ave.
Para se vingar, a mulher despediu a empregada. Contrataram outra. Chamava-se Madalena. Uma santa. Como não sabia o que era palíndromo – na verdade pensava ser uma doença contagiosa – não se incomodava com as frases do patrão. Achava-o esquisito, apenas. Mas até aceitou ir ao supermercado com ele, que não perdeu a ocasião para exibir suas qualidades lingüísticas.
- Me vê se a panela da moça é de aço, Madalena Paes, e vem.
No dia em que um ex-presidente do PSDB visitou a Central Única dos Trabalhadores ele passou o dia inteiro tagarelando no trabalho.
- Tucano na CUT! Tucano na CUT!
Os amigos no trabalho já não agüentavam mais a sua mania. Estavam cansados de ouvir coisas do tipo “Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos”. Aos mais íntimos, reconhecia:
- Ato idiota!
O primeiro choque veio quando soube que o filho estava metido com drogas. A mulher lhe pôs a culpa. Era um pai ausente. Ele chamou o filho à conversa.
- O pó de cocaína mata maníaco cedo, pô! – gritava.
À mulher, tentava justificar a fragilidade do filho:
- Erro comum ocorre.
Foi a gota d´água. A mulher pediu a separação. Ele não se deu por vencido. Inventou a desculpa de que iria morar em Roma, tentando mostrar uma força inexistente. E justificou o motivo da viagem:
- Roma me tem amor.
- Duvido – respondeu a mulher.
- O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro – emendou ele.
Quando os amigos lhe perguntavam o motivo da separação, ele respondia laconicamente:
- A vaidosa moça é de fé de aço, mas odiava.
Mudou-se. Não para Roma, mas para um modesto apartamento na periferia da cidade, a uma quadra de sua antiga casa. Quem descobriu foi a ex-mulher, ao ler uma correspondência endereçada a ele: Zé de Lima, rua Laura mil e dez.
This entry was posted on 20 de abril de 2006 at 7:14 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
Postar um comentário