O verdadeiro conhecimento

Sócrates – o filósofo – era considerado pelos seus contemporâneos um dos homens mais sábios e inteligentes da antiga Grécia, mesmo nunca tendo escrito nada e espalhado por toda Atenas que nada saber era a única coisa que ele sabia. E por pensar assim, foi sábio até na hora da morte, ao desmoralizar a democracia ingerindo cicuta.

Na faculdade, Filosofia sempre foi o meu calcanhar-de-aquiles. Para fugir das aulas, costumava inventar futebol com os amigos. Por isso, por muito tempo, a única referência de Sócrates que eu tive eram os passes de calcanhar que o irmão do Raí fazia em campo. Essa história de Pré-socráticos nunca entrou na minha cabeça. Preferia, na verdade, o pé-socrático, que encantou uma geração inteira – até mesmo na tragédia de Sarriá, lá pelos idos de 82.

Verdade que durante as provas, sempre tinha que dar um chute ou outro, mas se o próprio Sócrates, que era philósopho com pê agá, dizia que não sabia de nada, por que eu tinha de sabê-lo?

Com o tempo, descobri que ninguém sabe de absolutamente nada até a hora da morte. E que, no campo do conhecimento, joga bem mesmo quem manda a arrogância para escanteio.

A técnica é buscar sempre o conhecimento, sabendo que ele nunca será alcançado. Tive a certeza de tudo isso depois de um diálogo com a minha filha. Desejando algo que só era possível no final do ano, tentou travar uma discussão comigo:

- Isso só vai acontecer em dezembro – tentei lhe explicar.
- Mas nós já estamos em dezembro – retrucou ela.
- Não, não. Nós ainda estamos em setembro.
- Dezembro.
- Setembro.
- Dezembro – voltou a enfatizar, querendo pôr fim à pendenga.
- Minha filha, você quer saber mais do que eu? – tentei arrematar, com 36 anos de arrogância.
- Ah, é? Então me diga o nome dos Rebeldes na vida real!