O espaçoso
A cada dia me convenço mais de que o espaçoso é uma espécie que se multiplica em progressão geométrica, ocupando cada vez mais espaço nesse planeta tão abarrotado de gente. Por mais discreto que pareça ser, chama a atenção e incomoda por onde passa (por onde passa é maneira de dizer, porque em se tratando de espaçoso, ele não passa, fica). Até o Aurélio já tentou defini-lo. Mas por falta de espaço no Dicionário, fez um comentário chocho. Entretanto não é necessário o Pai dos Burros para falar de um espaçoso. Ele está em todos os lugares do mundo. Menos no espaço, porque espaçoso que se preze gosta mesmo é de invadir o espaço alheio. O espaçoso é aquele sujeito que ao se sentar no ônibus o faz com as pernas abertas, deixando desconfortáveis 20% de acento para o passageiro ao lado. E quando você acha que dá pra agüentar o imprensado até o destino final, ele abre o jornal e esfrega as páginas na sua cara. O espaçoso é, por assim dizer, a única pessoa do mundo que acha que dois corpos ocupam o mesmo lugar no espaço. E um dos corpos, claro, é o dele. Há vários tipos dessa espécie. Um deles é o espaçoso-bancário, que passa horas diante do caixa eletrônico conferindo o extrato, não se preocupando com as dezenas de pessoas que aguardam a vez na fila. Para esses infelizes, ele olha de soslaio como se que respondesse com um “não é da sua conta”, quando tentam lhe chamar a atenção. Há também o espaçoso-porteiro, que para justamente à entrada, impedindo o acesso de qualquer ser vivo com mais de 20 cm de altura. A coisa se complica quando encontra alguém conhecido e resolve contar toda a sua vida sob a soleira. Quando isso acontece, os 20 cm de passagem restantes vão para os quintos. O pior mesmo é quando o espaçoso-porteiro resolve atender ao telefone à porta. Se não bastasse falar aos berros e gesticular insistentemente, ainda lhe olha de cara feia, achando que você está ouvindo a conversa. Engana-se quem pensa que o espaçoso está limitado aos espaços internos. Quem dirige conhece muito bem o espaçoso do trânsito, que faz questão de ficar entre uma faixa e outra, atrapalhando a passagem dos carros em ambas – arrisca-se levar um carão quem se meter a besta e tentar reclamar. O espaço não está nem aí. Pelo contrário. Está aqui, ali e em qualquer lugar, que nem música dos Beatles. Quando você menos espera, esbarra em um diante da escada rolante, atrapalhando a passagem nas calçadas, ocupando duas vagas no estacionamento, impedindo sua visão no cinema. Literalmente, o espaçoso só não é mais chato por falta de espaço.
This entry was posted on 15 de setembro de 2006 at 9:23 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Anônimo - 10:03 AM
ehehehe
nem foi preciso ir buscar o pai dos burros. é q cá em Portugal tb há muitos espaçosos.
Adorei.
:)
# by lira - 9:56 AM
O que mais tem neste planeta terra,
é espaçoso, sempre tentando tomar conta de tudo!!invadindo sem ser convidado...que coisa chata!!!
# by lira - 9:57 AM
Adorei este teu blog! risos
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