Temperatura Máxima
O apelo veio da Denise, preocupada com as altas temperaturas do planeta. “Vamos chamar a atenção para o aquecimento global”, pediu. Prestativo, não hesitei. Alertaram-me, no entanto, que falar sobre o que não se conhece é percorrer terreno movediço. Só então percebi que estava entrando numa fria. Suei gelado. Até bem pouco tempo, achava que aquecimento global tinha a ver com Temperatura Máxima ou Tela Quente, dois programas mornos da Rede Globo. Aliás, foi um filme que me despertou para o assunto. Fascinado por animação, fui ver “Ice Age” nos cinemas, há cinco anos. “Prepare-se para a Era do Gelo”, gritava um personagem, enquanto eu suava em bicas na poltrona, incomodado pela falta de ar-condicionado na sala. Vai ver que é um efeito especial, pensei. Era defeito, me garantiu o gerente, com um sorriso sem graça. Esfrie a cabeça, respondi, tentando quebrar o gelo. Naquele dia, saí do cinema desanimado. Fui relaxar tomando um uísque cowboy, já para economizar nas pedrinhas. Algum tempo depois passei a prestar mais atenção na ressaca. Na minha não, na do mar, que vez por outra mostra sua fúria sem nenhum protocolo. De que outro modo seria? Antigamente, uma andorinha só não fazia Verão. Hoje, com o desequilíbrio ambiental, nem andorinha tem mais. Sobrou a estação – cada vez mais quente, principalmente para quem mora no Nordeste, que tem sol o ano inteiro. E do jeito que as coisas desandam, vai chegar um tempo em que Primavera será apenas nome de um parente, filha de um tio qualquer. Fico impressionado como ainda não se despertou para o problema. Culpa-se os governantes, mas o fato é que a população mundial ainda não entrou no clima. Protocolo de Kyoto, gazes poluentes, buraco na camada de ozônio ainda são consideradas pautas frias para a mídia, assuntos que não geram furo jornalístico, numa linguagem periodista. Visão mesmo tinha Anders Celsius, que não usava óculos, mas sua perspicácia lhe permitiu inventar os graus. Se estivesse vivo hoje, o astrônomo sueco provavelmente iria esquentar a cabeça para criar um escala maior de medir as altas temperaturas registradas em todo o mundo. Alheio a tudo, um amigo diz que o aquecimento global é uma excelente ocasião para se tomar cerveja. Preocupa-lhe apenas o fato das altas temperaturas provocarem o degelo na Antártica. “E Antarctica quente não tem Juliana Paes que a torne boa”, assevera. E justifica que só bebe porque a vida é passageira e ele não é o motorista. Mas garante que se fosse, não beberia. Alega que álcool e direção não combinam.
This entry was posted on 12 de janeiro de 2007 at 12:57 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Anônimo - 2:43 PM
Escrevendo estupidamente bem, pra variar. Adoro este estilo "tapa de humor". A propósito, vai participar da campanha do Allan, da Lucia Malla e da Ana Paula? Veja detalhes no meu blog.
abraço, garoto
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