A Arte de Escrever
Passei o final de semana lendo A arte de escrever, de Arthur Schopenhauer, o filósofo alemão que influenciou, com seu pessimismo, Freud e Nietzsche, entre outros. Viveu na Alemanha entre 1788-1860 e deixou escritos que continuam atuais, como os que estão reunidos na obra citada acima – lançada em português numa edição de bolso da L&PM. "Schopenhauer, psicólogo da vontade, é o pai de toda a psicologia moderna; dele se vai, pelo radicalismo psicológico de Nietzsche, em linha reta até Freud", escreveu Thomas Mann, que era homem até no nome. Ao longo de sua vida, criticou praticamente a todos de seu tempo, incluindo a mãe, uma escritora que mantinha, na cidade de Weimar, um salão literário freqüentado por figuras como Johann Wolfgang Von Goethe. A cidade, aliás, tinha um papel de destaque na cena cultural alemã nas primeiras décadas do século 19. Por discordar das ideias e do estilo da mãe, Schopenhauer picou a mula e sumiu no oco do mundo. "Vou nada ficar em Weimar; não bati na minha mãe", deve ter dito. Mas bateu. Não com chicote ou força física. Porém com suas críticas mordazes, que deixaram vítimas como o filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel pedindo arrego. Antes de partir, deve ter ouvido da mãe algo como "Vai, Arthur, vai ser gauche na vida" (e quem irá duvidar que o espírito de Drummond não tenha baixado na velha antes de escolher o Brasil como pátria?). Mas ele preferiu ser Schopenhauer, deixando para Johann Wolfgang a possibilidade de ser Goethe na vida. Boas as ideias do Schopenhauer. Melhores ainda se forem discutidas tomando um chope Heineken. A seguir, algumas delas:
Sobre Traduções:
"Todas as traduções são necessariamente imperfeitas, pois as expressões características, marcantes e significativas de uma língua não podem ser transpostas para outra".
"Todas as traduções são necessariamente imperfeitas, pois as expressões características, marcantes e significativas de uma língua não podem ser transpostas para outra".
Sobre Escrita:
"Deve-se evitar toda prolixidade e todo entrelaçamento de observações que não valem o esforço de leitura. É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela".
"Deve-se evitar toda prolixidade e todo entrelaçamento de observações que não valem o esforço de leitura. É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela".
"Só produz o que é digno de ser escrito quem escreve unicamente em função do assunto tratado".
"A condição deplorável da literatura atual tem sua raiz no fato de os livros serem escritos para se ganhar dinheiro".
"Também se pode dizer que há três tipos de autores: em primeiro lugar, aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, de reminiscências, ou diretamente a partir de livros alheios. Essa classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, há os que pensam enquanto escrevem. Eles pensam justamente para escrever. São bastante numerosos. Em terceiro lugar, há os que pensaram antes de se pôr a escrever. Escrevem apenas porque pensaram. São raros."
Sobre Editores:
"Tenham mais honra no corpo e menos dinheiro nos bolsos e deixem os ignorantes sentirem sua inferioridade, em vez de fazer cortesias às suas carteiras".
"Tenham mais honra no corpo e menos dinheiro nos bolsos e deixem os ignorantes sentirem sua inferioridade, em vez de fazer cortesias às suas carteiras".
Sobre Pensadores:
"O mais belo pensamento corre o perigo de ser irremediavelmente esquecido quando não é escrito".
"O mais belo pensamento corre o perigo de ser irremediavelmente esquecido quando não é escrito".
Sobre Livros:
"O que o endereço do destinatário é para uma carta, o título deve ser para um livro, ou seja, o principal objetivo é encaminhá-lo à parcela do público para a qual seu conteúdo possa ser interessante".
"O que o endereço do destinatário é para uma carta, o título deve ser para um livro, ou seja, o principal objetivo é encaminhá-lo à parcela do público para a qual seu conteúdo possa ser interessante".
Sobre a Crítica:
"As revistas literárias deveriam ser o dique contra a crescente enxurrada de livros ruins e inúteis e contra o inescrupuloso desperdício de tinta de nosso tempo (...). Elas deveriam fustigar sem pudor toda a obra malfeita de um intruso, toda a subliteratura por meio da qual uma cabeça vazia quer socorrer o bolso vazio, ou seja, aproximadamente nove décimos de todos os livros".
"As revistas literárias deveriam ser o dique contra a crescente enxurrada de livros ruins e inúteis e contra o inescrupuloso desperdício de tinta de nosso tempo (...). Elas deveriam fustigar sem pudor toda a obra malfeita de um intruso, toda a subliteratura por meio da qual uma cabeça vazia quer socorrer o bolso vazio, ou seja, aproximadamente nove décimos de todos os livros".
"Normalmente as resenhas são feitas no interesse dos editores e não no interesse do público".
"É claro que uma revista literária do tipo que defendo só poderia ser escrita por pessoas em que uma probidade incorruptível estivesse unida, por um lado, a um nível raro de conhecimento e, por outro, a uma capacidade de julgar ainda mais rara".
Sobre a Liberdade de Imprensa:
"A liberdade de imprensa deveria pelo menos ser condicionada por uma proibição de todo e qualquer anonimato e do uso de pseudônimos".
"A liberdade de imprensa deveria pelo menos ser condicionada por uma proibição de todo e qualquer anonimato e do uso de pseudônimos".
"Usar o anonimato para atacar pessoas que não escreveram anonimamente é evidentemente desonroso".
Sobre o Estilo:
"O estilo é a fisionomia do espírito. E ela é menos enganosa do que a do corpo".
"Quem tem algo digno de menção a ser dito não precisa ocultá-lo em expressões cheias de preciosismos, em frases difíceis e alusões obscuras, mas pode se expressar de modo simples, claro e ingênuo, estando certo com isso de que suas palavras não perderão o efeito".
This entry was posted on 11 de fevereiro de 2008 at 1:28 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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