Hein!?

Tenho dificuldades com aparelhos celulares. Todos os que possuí até hoje – sem exceção – acabaram oxidados em contato com meu suor, imprestáveis. Confesso que transpiro facilmente. E há quem diga que a minha transpiração é tão prejudicial para a telefonia móvel quanto a Oi. Não chega a ser a hiperidrose que acomete o Splash, um colega de profissão que conheci em São José dos Campos, numa viagem a trabalho. Chagamos à cidade no mesmo vôo, embora só o tenha conhecido ao entrar no carro que nos levaria até o hotel. “Eu sou do Ceará”, disse-me, estendendo a mão. “Eu, de Alagoas”, respondi, enxugando inconscientemente a mão depois de apertar a dele. “Eu sofro de hiperidrose”, tentou justificar a molhadeira. “Você acha que me chamam de Splash por quê?”, questionou. E começou a contar os embaraços que a doença lhe provocara ao longo da vida. Adolescente, tentou praticar karatê, mas desistiu depois de levar algumas quedas. “Os adversários eram mais fortes do que você?”, eu quis saber. “Eu transpiro por pés e mãos, e sempre escorregava nas aulas”, explicou. Contou também da vez em que, na igreja, já no rito final da missa – quando os fiéis se cumprimentam – percebeu um enxugar de mãos de pelo menos uma dúzia de pessoas. “Depois que descobriram que eu é quem provocara a molhadeira, ninguém mais me cumprimentou”. Segundo ele, o primeiro Sonrisal que tentou tomar já começou a se desfazer em suas mãos, causando-lhe uma desagradável sensação de mal-estar. Teria contado todos os episódios, se meu celular não tivesse tocado. Imediatamente, lembrei dos aparelhos que perdi por conta do suor. O último aconteceu recentemente. Depois de oxidado, não consegue nem fazer nem receber chamadas. Por conta disso, cheguei a ficar alguns dias incomunicável, para desespero de quem tentava falar comigo. Angustiado, o Márcio me presenteou com um aparelho (embora eu já estivesse me acostumando com a liberdade telefônica). “Só tem um problema: todo mundo reclama desse telefone”, alertou-me. Desconfiei. Por pouco tempo, é verdade. “Hein!”, “O que você disse?” e “Fale mais alto” foram as frases que eu mais ouvi de quem estava do outro lado da linha. “Esse seu telefone é uma bosta” e “Troca essa merda de aparelho” foram as outras. “Hein?”, eu respondia, para ter a certeza do que diziam. Com o tempo, aprendi que não adiantava gritar nem repetir as frases. Ninguém entenderia do mesmo jeito. Hoje, quando atendo a uma ligação, vou logo avisando: “Este telefone é muito baixo. Se quiser me ouvir ligue para um telefone fixo”. O fato é que até hoje ninguém ligou. Acho que não entenderam bem o meu recado.