Pais e filhos*
Ricardo e Graciliano Ramos, em foto de 1948.
"Ricardo passaria as férias de 1939 para 1940 no Rio. Aos dez anos, não tinha qualquer lembrança física do pai (vira-o pela última vez em 1936). Bom aluno no colégio, acabara de ingressar no ginásio sem fazer exame de admissão, e estava ansioso para mostrar o boletim escolar.
- Está bom – diria Graciliano após examinar as notas. – Mas o ensino de Alagoas não vale nada.
Ricardo baixaria os olhos.
- Não estou dizendo isso para contrariar você, não. É que fui diretor da Instrução Pública e sei que o ensino lá não presta. De forma que esse boletim não tem muita importância, não.
O entusiasmo do menino se desmancharia. Quando já pensava em guardar o boletim, o pai o surpreenderia:
- Você não quer fazer o exame de admissão no colégio em que trabalho?
O pensamento de Ricardo seria instantâneo: ‘Dessa vez eu me ferrei?’. Fora aproveitar as férias no Rio e agora arrumava essa encrenca.
- Se o senhor quiser, eu faço – responderia sem convicção.
- Pois então está combinado.
Sagaz, Ricardo imporia uma condição:
- Eu só não vou estudar, porque estou de férias.
E lá foram os dois pegar um bonde, no Tabuleiro da Baiana, para o Colégio 28 de Setembro, no Méier, onde Graciliano atuava como inspetor de ensino. No primeiro dia, provas escritas de cinco matérias; no segundo, provas orais. Quando saíram as notas, a barba de Graciliano cresceu: o filho tirara dez em tudo.
Alegre, Ricardo jogaria uma piada:
- Papai, o ensino aqui parece que é pior que o de Alagoas...
Com um sorriso matreiro nos lábios, Graciliano não passaria recibo:
- Não é nada disso, não. Fizeram isso porque você é meu filho."
- Está bom – diria Graciliano após examinar as notas. – Mas o ensino de Alagoas não vale nada.
Ricardo baixaria os olhos.
- Não estou dizendo isso para contrariar você, não. É que fui diretor da Instrução Pública e sei que o ensino lá não presta. De forma que esse boletim não tem muita importância, não.
O entusiasmo do menino se desmancharia. Quando já pensava em guardar o boletim, o pai o surpreenderia:
- Você não quer fazer o exame de admissão no colégio em que trabalho?
O pensamento de Ricardo seria instantâneo: ‘Dessa vez eu me ferrei?’. Fora aproveitar as férias no Rio e agora arrumava essa encrenca.
- Se o senhor quiser, eu faço – responderia sem convicção.
- Pois então está combinado.
Sagaz, Ricardo imporia uma condição:
- Eu só não vou estudar, porque estou de férias.
E lá foram os dois pegar um bonde, no Tabuleiro da Baiana, para o Colégio 28 de Setembro, no Méier, onde Graciliano atuava como inspetor de ensino. No primeiro dia, provas escritas de cinco matérias; no segundo, provas orais. Quando saíram as notas, a barba de Graciliano cresceu: o filho tirara dez em tudo.
Alegre, Ricardo jogaria uma piada:
- Papai, o ensino aqui parece que é pior que o de Alagoas...
Com um sorriso matreiro nos lábios, Graciliano não passaria recibo:
- Não é nada disso, não. Fizeram isso porque você é meu filho."
*In: MORAES, Dênis de. O Velho Graça - Uma biografia de Graciliano Ramos. Rio de Janeiro, José Olympio, 1992.
This entry was posted on 6 de junho de 2008 at 10:00 AM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Anônimo - 2:14 PM
O Graça não é de brincadeira! Já ouvi falar de muita gente criteriosa, rigorosa e honesta, mas poucas se comparam ao Graça. A essas qualidades ele soma uma outra que é ainda mais rara: a sensatez. Graciliano nunca tirava os pés do chão.
# by Renato Medeiros - 12:36 AM
poxa, que legal essa história.
tenho certa atenção sobre a pessoa e aobra de Ricardo Ramos.
Mas não é por ele ser filho de Graciliano não. Na verdade, eu nem costumo lembrar muito desse fato.
Postar um comentário