Pandeiro de Samba

Admiro quem gosta de animais. E admiro ainda mais quem trata animal como animal, sem ultrapassar aquele limite entre razão e irracionalidade. Para mim, até que se prove o contrário, animal é animal e gente é gente, apesar de ter gente que mais parece animal, e animal que mais parece com gente. Mas parecer não é ser. Pelo menos é o que me parece. Gostaria de ser mais apegado aos bichos, mas confesso que não consigo falar a mesma língua deles. Nem eles a minha. Talvez por isso a única espécie que sempre tive vontade de criar foi um papagaio, desejo que aumentou depois que li A décima segunda noite, de Luís Fernando Veríssimo, livro inspirado em Noites de reis, de Shakespeare, e narrado por uma ave tagarela. Na adolescência, cheguei a criar um gato, o Astor. Astor Miazzola, uma homenagem descarada ao Piazzola, que era um pintinho de granja que tive um dia. A diferença é que meu gato nem piava nem tocava tango. Acabou desaparecendo, algum tempo depois. Suspeitei que foi usado para tamborim. “No fundo, tinha tendências musicais”, pensei, para me conformar com a perda. E com o passar do tempo, compreendi que o Astor tinha a musicalidade na pele. Penso nisso toda vez que estou com amigos num churrasquinho-de-gato, ouvindo algum samba com batidas de tamborim. “Adeus, adeus/Meu pandeiro de samba,/ Tamborim de bamba/ Já é de madrugada”.

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    # by Paulinha Felix - 9:18 AM

    Você fez! ADOREI!!!!

    Esses bichos nos encantam com seus olhos pidões, isso sim! Nem precisam falar! O meu Astor roeu meu calcanhar =(

    =*