Be Happy

"Não se preocupe, ponha um sorriso em seu rosto
Não derrube todo mundo com seu baixo astral”
(Bob Marley)


Jornalismo não é uma profissão fácil. Por não ter hora para acontecer – e geralmente acontecem nas horas mais impróprias – as notícias escravizam os profissionais de imprensa de tal forma que geralmente atrapalham o convívio social e familiar. Há momentos, no entanto, em que a profissão nos contempla com momentos de humor – quando o jornalista é bem humorado, claro – camuflados em notícias surpreendentes que chegam à redação. Por exemplo: recentemente, uma velhinha de 74 anos saiu de casa, passou numa movimentada padaria de Palmeira dos Índios, comprou um ingênuo pão francês e foi levar para o neto preso na delegacia do município. Movidos pela fome, os colegas de cela lançaram olhares para o alimento, mas se contiveram. Sabe como é, né? Vovó preparou a comida com tanto carinho que não era justo pedir um pedaço. Ficaram, pois, comendo com os olhos, que é uma forma econômica de se alimentar e, de quebra, manter o regime. Presos à grande fome e à cela minúscula, ficaram espremidos uns contra os outros, vendo o neto desembrulhar o pão vagarosamente. Eis que, ao abrir o alimento, em vez de miolo, o francês estava recheado de maconha, que deixa mole o miolo de quem fuma. (Inevitável não pensar aqui que, nesse exato momento, enquanto o neto abria o pão em slow motion, Bob Marley ataca de Don’t Worry Be Happy):

“In every life we have some trouble
When you worry you make it Double
Don't worry, be happy”

O aparecimento da droga despertou o interesse dos demais presos que – esquecendo-se da fome e do gesto bondoso da avó zelosa – partiram pra cima do neto. Princípio de rebelião na delegacia. E Bob Marley comendo no centro:

"Aint got no place to lay your head,
Somebody came and took your bed,
Don't worry, be happy"


O mafuá só foi controlado horas e muitos Bob Marley depois, com a chegada de reforço policial. O neto, que cumpria pena por assaltos e roubos, vai responder a processo também por tráfico de droga, embora ele tenha alegado que a maconha era para uso próprio. Quanto à vovó, que não soube explicar o aparecimento da canabis dentro do pão, foi inocentada. Eu fiquei imaginando o gesto da velhinha, que, além de pensar no bem-estar do neto, cuidou de saciar sua larica. Deve ter ido à delegacia cantando a velha canção de Marley:

“Don't worry, it will soon pass whatever it is,
Don't worry, be happy...”

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    # by Chris Duarte - 12:19 PM

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    # by Patricia Bastos - 2:55 PM

    Eu devia ter redigido a matéria desse jeito ;)

    Legal também é que por conta do inusitado, a matéria que escrevi virou um trabalho de Comunicação Comparada de um estudante de jornalismo do Cesmac.

    Abraços

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    # by Anônimo - 6:02 PM

    Cara, isso dá um filme!
    Com trilha sonora de Bob Marley
    Muito bom!

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    # by Cris Calaça - 7:50 PM

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Nenéo, seus textos são uma "droga" mesmo...

    Viciada!

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    # by Paulinha Felix - 8:00 PM

    BE HAPPY!!

    Cara, eu me poquei de rir!! Adoro seus textos!!!

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    # by Acássia - 9:46 PM

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    # by Jan Ribeiro - 8:22 PM

    Causos de Nealdo... Tem muito maconheiro por aí sonhado com uma vovó dessas! rsrsrs