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Poeta é poeta e vice-verso. Não dá para questionar a genialidade de um Vinicius de Moraes, por exemplo. Mas juro que toda vez que ouço “A Casa” fico com uma pulga atrás da soleira. Porque me lembro da minha casa. Que tem paredes, teto, porta e chão. Só não tem móveis. Aliás, somente um poeta para achar engraçada uma casa que não tem nada. Minha filha acha. Mas ela, assim como o Vinicius, tem qualidades especiais. “Sua casa é tão cheia de vazios”, observou ela na primeira vez que me visitou, não se dando conta de que basta a presença dela para a minha casa ficar completa. De luz, de vida, de esperança e de saudade. Na última visita – entre o Natal e o Ano Novo –, observou a lousa em formato de porta-chaves na cozinha e não resistiu. “Que lindo, pai! Onde você comprou?”. E depois de saber que fora eu que fizera improvisando uma tábua de carne, não agüentou: “Me empresta o giz?”. E escreveu: “amor de filha, mais amor de pai, é igual a ‘pai, eu te amo. Happy Ano Novo’”. Senti-me o bobo – de felicidade – morando na casa de número zero do Poetinha. “Era uma casa muito engraçada / não tinha teto não tinha nada / ninguém podia entrar nela não / porque na casa não tinha chão...”. E quem precisa de chão quando se flutua?

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    # by Lenilda Luna - 9:33 AM

    Voce transborda de amor quando fala da sua filha. Antes eu tinha uma idéia de como é isso, agora eu sei...

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    # by Anônimo - 2:01 PM

    q coisa mais linda q eu li agora! emocionei-me!

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    # by Anônimo - 5:35 PM

    A sua forma de escrever transforma o engraçado em emoção pura... transborda... tranforma.
    A sua casa com certeza, tem um significado muito especial.... e ela nunca estará vazia.

    Parabéns!
    Feliz Ano Novo!

    Alê

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    # by Débora Guedes - 7:54 PM

    Etava lendo sua última postagem e resolvi visitar o seu breve passado literário. Parei no dia 31 de dezembro de 2009, ao ver a tábua/chaveiro. Mesmo antes de ler, sabia que se tratava de Isa e me vi trasnportada para o poema de Vinícius... Com bastante atenção, li o que sua poetISA falou sobre a casa cheia de vazios... Poética mesmo. E mesmo sem querer, vi que além de um escritor fantástico, és marceneiro, artesão e que na casa de um poeta, uma tábua de carne, jamais terá um destino comum de todas as outras. Ela será preenchida de poesia que irá transformar vazios em amor puro e concreto.

    Abraços!