Marca-passo

O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções


Perder um amor é como perder um braço num acidente inesperado. Primeiro, a dor lancinante faz você pensar que não sobreviverá à tragédia. Você grita e chora e se desespera até adormecer vencido pela dor e o cansaço. Acorda no outro dia numa UTI de sentimentos ainda sentindo dores insuportáveis, mal respirando com ajuda de aparelhos. Mas já seu braço não existe, embora a sensação de seu corpo completo seja de tal modo intensa que você se pega tentando fazer movimentos com o membro inexistente. Por um instante, você tem medo de olhar pro lado e perceber que não tem mais o braço. Você quer crer que se trata de um pesadelo e que vai acordar inteiro. Mas você nem dorme porque as dores o chamam de volta. E você tem medo. Medo de não se acostumar à nova situação. E quando pensa que está se recuperando, vem novos baques. E com eles a necessidade de se adaptar sem um dos braços. Ter que usar o outro para fazer coisas que fazia tão bem com o braço perdido. Acostumar-se sem um amor é como acostumar-se sem um braço. Primeiro você se percebe tentando pegar um objeto com o braço “invisível”. E percebe, doravante, que terá de adaptar todos os seus sentimentos. Você sobreviverá, por certo. Aprenderá a se superar, porque a vida ensina isso nos mínimos detalhes. Mas vai sempre se lembrar com muita saudade que um dia teve um braço. O mesmo cuja mão segurava a mão do seu amor...