O mapa do tesouro


Eu não sei absolutamente nada sobre a Nova Zelândia, a não ser o fato de ficar muito, muito longe do Brasil; e do “gladiador” Russell Crowe ter nascido por aquelas bandas. Mas ele também não deve saber nada sobre o seu país, porque se naturalizou australiano – a terra dos cangurus – ainda criança. Algum tempo depois, sua carreira daria um grande pulo. Foi exatamente nisso que pensei depois que a minha filha me ligou perguntando onde ficava a Nova Zelândia. Precisava da informação para uma tarefa da escola. Senti um frio tão gostoso na espinha que meu inconsciente me mandou à Groelândia. Deu saudades do tempo em que a ajudava nos exercícios escolares, um papel que, infelizmente, perdi pelas circunstâncias e pela distância física que nos separa. “Nada a ver, pai”, respondeu ela, quando balbuciei alguma coisa como “pras bandas do Polo Norte”. Culpa do frio na espinha e da minha alegria, que trataram de mudar a geografia mundial. Por telefone, pedi para ela apanhar o mapa – enquanto eu me perdia em lembranças do passado, percorrendo rotas feitas em diferentes momentos. “Pronto, pai. Estou com ele nas mãos”. Então, depois de orientá-la, eu fechei os olhos e vi aquele dedinho de criança passeando por países, atravessando oceanos, desviando rotas até chegar à Nova Zelândia. “Achei, pai!”, alegrou-se. Se estivesse perto dela, certamente comemoraríamos a conquista com um abraço, como certamente faziam os desbravadores que singravam os mares e descobriam novos mundos, anunciando o achado com um grito de “terra à vista!”. Depois de ouvir um obrigado do outro lado da linha, despedi-me dela, desliguei o telefone e fiquei feliz por um bom momento. Deu saudade do tempo em que conferia diariamente seu dever de casa – uma obrigação que todo pai deveria acompanhar como se estivesse recebendo um prêmio diário. Porque acompanhar a educação dos filhos é como ter em mãos um mapa do tesouro...