Em Busca do Ouro*

CARLITOS É UM CABOCLO LISO, pobre de Jó, sempre metido em ingresias. Ele anda de um jeito engraçado, assim, feito pato. Sujeito mal-amanhado tá ali: chapéu-coco fubento, calças afolozadas, uma bengalinha ensebada – uma marmota! Cagado e cuspido um flagelado da seca. Um dia, Carlitos vai para o garimpo nas montanhas, atrás de encontrar ouro. Ia com mais uma récua de aventureiros, subindo e descendo cada serra desgramada, enfrentando feras terríveis. Aí começa a cair neve – que é uma espécie de chuva de gelo, parecendo capucho de algodão, bem branquinha e gelada. Fazia um frio de rachar o cano, e eles ali, com pá  e picareta cavando a montanha, sofrendo mais do que sovaco de aleijado. E nada de ouro. Então, cai uma tempestade, e Carlitos se perde da turma. Depois de penar não sei quantas horas, já com uma fome canina, encontra um casebrezinho, se aprochega e grita: “Ô de casa!” E nada. “Ô de casa!” Necas de resposta. Ele resolve emburacar na cabana, e qual não é sua felicidade ao encontrar em cima da mesa uma coxa de galinha assada. Ele dá graças a Deus e ferra os dentes nela. Acontece que o dono da casa era um mau elemento que chega nesse justo instante: Ô rapaz, esta casa é minha, e essa coxa de galinha é meu jantar. Prepare-se pra levar uma camada de pau!” O pobre do Carlitos tomou um susto que quase se obra, mas foi salvo pela chegada de Jim Grandão, um garimpeiro com quase dois metros de altura que também tinha se perdido na tempestade. Jim Grandão logo viu que o dono da casa não era flor que se cheirasse e de imediato tomou as dores de Carlitos. O maloqueiro pegou uma espingarda de cano longo na intenção de disparar nas visitas, mas aí Jim Grandão atracou-se com ele, e foi aquele pega-pra-capar, os dois agarrados à espingarda, e Carlitos pinotando de um lado pro outros feito um cabrito, com medo de levar chumbo.  Até que Jim Grandão venceu a parada e decretou ali na hora: “Não arreda ninguém. Ficamos nós três na cabana até passar a tempestade, e ninguém se meta a besta, senão vai se haver comigo!”.

*Trecho de “Roliúde”, romance de Homero Fonseca.