Suindá

Suindá se levantou e saiu massageando a harmônica noite adentro.
 – Ah, bêbado! – rosnou o soldado amarelo à porta da delegacia, batendo o lenho na palma da mão, como a mostrar uma autoridade inexistente.
O policial amarelo não sabia o que era vagar de carecente, a dedilhar a alma num instrumento inútil, libertando melodia plangente no meio da noite. ‘O senhor não entende o que é canção...’, tentou dizer ao homem fardado, mas desistiu diante da cara de mau do praça. Preferiu seguir o caminho escuro. À distância, olhou para trás e enxergou o velho vulto de farda, a perder-se na distância da prisão. Viu o prédio gasto – quantos dias deixara a alma presa ali? –, o policial à porta, a bater na palma da mão com o pedaço de madeira, cambaio. Examinou o guarda tomar seu posto à entrada depois de tirar o pó imaginário da farda e ajeitar-se em sentido – a prestar continência ao vazio. Foi desaparecendo na escuridão, guiado pelo instrumento; toda cidade dormia embalada pela canção que passeava entre seus dedos, levada pelo vendo aos ouvidos dormentes...


Corujinha, que vida é a tua?
Bebendo cachaça,
Caindo na rua,
Dormindo no chão,
Isto é bom, corujinha,
Isto é bom...?