Papo-cabeça

O meu juízo deve ser um prato extremamente apetitoso e disputado —algo como a galinhada do Alex Atala em dia de Virada Cultural—, dada a grande quantidade de pessoas que insistem em comê-lo. Até entendo quando dizem que tenho o juízo de pinto, mas daí até a transformação em galinácea é um processo que dá pena. Não da galinha, mas do meu juízo, que de vez em quando insiste em cantar de galo. Quero deixar claro: independente de tudo, quem manda na minha cabeça sou eu. Meu juízo é livre, e exerço sobre ele uma espécie de indie gestão. Ainda se atreve a comê-lo? Pense bem, porque de vez em quando eu penso mal. Você pode até comer um tico do meu Teco, mas vou logo avisando: tenho pensamentos podres. Insiste a minha massa em ser fálica. Por isso, cuidado ao tentar ciscar no meu terreiro. E por que esse papo agora? Porque dou valor ao meu juízo, principalmente porque não costumo fazer juízo de valor de ninguém. E porque decidi pôr tudo em pratos limpos, dar asas à imaginação, sem outdoor nem piedade. Vou logo avisando que desde o princípio, eu espero pelo juízo final. E ele se passa em Alagoas, como no filme “A fuga das balinhas”, quando alguém bate no peito e solta o grito, se achando o rei do galinheiro: “Porra, que a polícia vem aí”.