Darwin às Avessas
Quem já foi adolescente saberá do que falo, porque se passa o tempo, mudam-se as expressões, mas a essência é a mesma. Não há nada comparado à linguagem dos jovens, sejam eles brasileiros, russos, gregos ou sabe-se-la-o-quê. Comunicar-se com adolescente exige, primeiramente, um conhecimento que vai além de tudo o que você aprendeu, inclusive na adolescência.
Tenho amigo versado em línguas – calma, língua aqui é sinônimo de idioma – que seria capaz de ler Camões em Mandarim, mas não entende uma palavra que os filhos falam. Alega que aquilo não pode ser Português falado no Brasil. Muito menos em Portugal.
- Nem é dialeto, para falar a verdade – espanta-se.
Ele é um dos que defendem que gíria deveria ser ensinada nas escolas, como Português ou qualquer outra disciplina.
- Adoraria chegar em casa e perguntar pros meus filhos quanto eles haviam tirado em Gíria, porque pela primeira vez ouviria uma resposta positiva.
O pobre vive repetindo que vai ficar velho e não conseguirá se comunicar com os jovens. Diz que é mais fácil falar com o mundo dos espíritos do que com adolescente.
A gente só percebe que está ficando velho quando nascem os filhos. Principalmente quando eles começam a falar, porque é a partir daí que você se dá conta de que não entende nada. Ou entende muito pouco.
Confesso que não paro de me surpreender com as tiradas da minha filha, que tem apenas quatro anos, mas desde que nasceu já me dá um banho de ensinamento. Outro dia, assistindo a um desses desenhos japoneses – não me pergunte qual porque, para mim, desenho japonês é como seus criadores: tudo igual – em que uma moça se transformava em borboleta, ela olhou pra mim, como sem entender o que havia se passado, me sapecou a pergunta:
- Pai, o que aconteceu com ela?
Fizeram um feitiço, Isa – respondi, alheio ao que se passava de fato na tela de TV.
- Não, pai. Ela se desevoluiu – corrigiu-me com ar de quem achava que eu não sabia de nada.
A partir daí, comecei a achar que eu é que estava desevoluindo. Não estranharia se, assim como no desenho japonês, eu me transformasse num burro em vez de borboleta...
This entry was posted on 12 de julho de 2005 at 12:16 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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