O Trem das Cores

Descobri que a vida é multicolorida. Sei que não é nenhuma novidade ver o mundo em policromia, mas é que às vezes dá um branco nesse preto que vos escreve e tudo se apaga. E como todo ser humano, quando isso acontece, costumo ficar verde de raiva – talvez por culpa de algum parentesco irreconhecível com o Hulk.Descobri também que esses embaraços de memória geralmente acontecem quando estou azul de fome. Porém, muitas vezes não almoço por falta de tempo; noutras, por excesso de trabalho. Claro que gostaria de, pelo menos, saborear uma salada verde. Mas meus amigos vivem dizendo que não sou um cara maduro, que preciso priorizar algumas coisas na minha vida. Que não seja trabalho, evidentemente. Quando ouço isso, confesso, fico com aquilo roxo, como costumava dizer aquele ex-presidente da República nos tempos dos caras-pintadas.Por ora, o que sei é que, apesar de ser multicolorida, a vida não é um mar de rosas. E nem sempre lhe estenderão um tapete vermelho para que você passe todo senhor de si. Contente-se com o fato de haver tapetes, preocupando-se sempre de nunca o puxarem. Penso nisso e fico com um sorriso amarelo no rosto, tentando entender o que se passa ao meu redor. Porque comigo é assim: tudo tem que ser preto no branco. Não necessariamente nessa mesma desordem.Como jornalista, sempre achei que há pelo menos duas versões de um fato. Por isso nunca acreditei na história da Terra ser azul, como disse Yuri Gagarin. Nem eu nem a minhoca. E entre a minhoca e o cosmonauta russo, prefiro ficar com o animal anelídeo que, dizem, possui duas cabeças. E duas cabeças, convenhamos, pensam melhor que uma.Também nunca entendi porque há luz negra. Se há negrume, como pode haver luz? Não me pergunte, porque não sei a resposta. Também não a considero importante. O que importa, no entanto, é que a vida é multicolorida, apesar de as cores também fazerem parte da morte, que o digam os índios brasileiros vitimados pela febre amarela levada para as aldeias pelos caras-pálidas. A vida é tão multicolorida que não faz muito tempo dizia-se que estava “tudo azul” quando se queria traduzir a perfeição do momento. “Tudo bem com você?”. “Tudo azul” era a resposta. E bastava para se dizer que estava às mil maravilhas. Hoje isso não existe mais. Quem ainda diz tudo azul já passou dos trinta faz tempo. Para se estar na moda, basta responder com um “belheiza” típico dos adolescentes.Claro que não precisa dizer aqui que se você tiver mais de três décadas, vai ficar ridículo querendo se passar por um jovem de 20. É preciso, portanto, respeitar os cabelos brancos. Os seus, principalmente. Belheiza? Ops! Tudo azul?

  1. gravatar

    # by Carlos Nealdo - 6:47 AM

    Ah, muito bom. Vou fazer sim, em sua homenagem. Aguarde.

  2. gravatar

    # by Yvette Maria Moura. - 6:01 PM

    Muito legal. Gosto de trocadilhos, mas nem todo mundo sabe faze-los bem...
    Que não é o seu caso.
    Bjuuxx...
    Flw, Btaummmm!