Esqueceram de mim
Fico espantado com a imaginação que as crianças têm. Aliás, nem me espanta porque já fui criança e me lembro de coisas que, já adulto, percebi só existirem no campo dos sonhos infantis. Mesmo assim, vez por outra me surpreende o poder criativo dos pequenos. Para mim, agências de publicidade deveriam contratar crianças – se a exploração de menores não fosse crime. Sei não, mas deveria haver uma maneira de tê-los como consultores. Tipo Washingtonzinhos Olivettos, Dudinhas Mendonças (antes do PT, claro), Nizanzinhos Guanaezes. Pelo menos em se tratando de campanhas de leite, fraldas, doces e coisas do gênero, os comerciais sairiam muito melhores. Há quem idiotize a criança, o que é uma pena, porque elas são muito mais espertas do que muitos adultos. Juntos. Basta ficar reparando nas tiradas que os pequenos soltam, de quando em vez. Outro dia, por exemplo, passeando com a minha filha, decidi perguntá-la o que é o amor. Ela olhou pra mim, pensou um pouco, riu e disparou: "amor é passear com você". Não precisa dizer que ganhei o dia. Aliás, tenho ganhado dias, meses e anos com as tiradas delas. Para mim, os adultos deveriam conversar mais com as crianças. E tratá-las como seres inteligentes que são, jamais as infantilizando. A verdadeira inteligência vem dos pequenos, pode crer. Esta, por exemplo, aconteceu com o meu amigo Wendell Siqueira, um pernambucano de bom gosto e excelente músico, apreciador de Chico Buarque e da cultura do seu Estado. Quando era criança, se inventou de brincar com o irmão mais novo, o Vitinho. Sentados num tapete "voador", inventaram de percorrer o Brasil, começando por Recife, a capital pernambucana. A convite do Vitinho, começaram andando por diversas cidades, cada uma mais encantadora do que a outra. Afoito, o irmão mais novo foi desejando "conhecer" cada vez mais lugares, até que decidiu: vamos pra São Paulo. E tocaram o barco. Quero dizer, o tapete. Chegaram, pararam e apreciaram os arranha-céus da paulicéia desvairada. Até que, meio fastidioso pela brincadeira, o Wendell decidiu se levantar. Aproveitou para ir ao banheiro. Quando viu que o irmão ia deixar o "transporte", Vitinho não se conteve e caiu no choro, para espanto do pai, que observava a brincadeira dos dois à distância. Na ausência do irmão mais velho, o caçula não se controlava de choro:
- Wendell, não me deixe sozinho em São Paulo!
This entry was posted on 19 de novembro de 2005 at 12:25 AM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by graziela - 5:15 PM
que post mais enternecedor. eu concordo consigo, devemos ouvir sempre as crianças. as opiniões delas, às vezes são desconcertantes.
um abraço
graziela
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