Um Herói de Brinquedo
Sempre achei Natal uma data muito triste. Não sei, mas o fato é que me sinto melancólico com as musiquetas harpejadas e as luzes piscando nas árvores. Na verdade, tenho traumas do dia 25 de Dezembro (não se trata de ter sido esquecido na hora de distribuir presentes ou ficar com fome na hora da ceia. Antes disso, o trauma tem a ver com a caracterização daquele que todos os brasileiros costumam chamar de Bom Velhinho).
Ainda menino, acabei me machucando e tendo que providenciar curativo às pressas numa farmácia da vida. Uma brincadeira mal arquitetada acabou me deixando com um corte na cabeça e ouvindo gingle bells por um bom tempo.
Não era nada que um adulto não pudesse estancar com um chumaço de algodão. O problema é que faltava algodão em tudo que era drogaria. E de quem era a culpa? Do tal do Bom Velhinho. Não sei porque cargas d´água, mas naquele ano, todas as pessoas do mundo decidiram se fantasiar de Papai Noel. E haja comprar algodão nas drogarias.
Por isso que, a partir de então, passei a desacreditar em Papai Noel. Como querer que eu acredite em alguém que usa barba postiça? De algodão, ainda por cima!
A situação se complicou quando descobri, ainda menino, que o tal do Bom Velhinho se chamava Santa Claus lá nos estrangeiros. Como assim? Será que o disfarce — a tal barba postiça — era para encobrir a verdadeira identidade do barbudo? Bom, foi aí que passei a encasquetar com o transporte do moço. Renas voadoras, veja se pode!
O sonho estava desfeito. Não teve Aladim do mundo que me fizesse acreditar em animais voadores. Com muito esforço, ainda admiti que tapete pudesse levantar vôo. Mas daí fazer renas saltitantes percorrer alturas inimagináveis...
A partir de então, a melhor coisa que fiz foi tirar a minha meia da janela (já não agüentava mais ir à escola vestido apenas com uma delas).
O pior mesmo foi saber que Papai Noel explorava menores. Sim, ou vai dizer que você já viu duende grande? Onde estavam os direitos humanos que não viam isso?
(Se bem que duende não pode ser considerado humano).
Ou pode?
This entry was posted on 27 de novembro de 2005 at 2:16 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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