Os últimos serão os primeiros
Até bem pouco tempo atrás, achava que não era lá muito normal. Passei um bom tempo com a frase “de médico e de louco todo mundo tem um pouco” martelando na cabeça. Nunca cheguei a descobrir meu lado médico, mas de tanto martelar, a frase acabou deixando o meu juízo perturbado. A situação piorou depois que vi Memento, um filme do Christopher Nolan que começa de traz pra frente. Logo na primeira cena você já sabe como é o final. Se quiser ver o começo, você terá que esperar até o fim. Não é loucura não, quem quiser conferir basta ver o longa. A partir dele, comecei a pensar que a nossa vida deveria ter início do fim pro começo. O ser humano nasceria já velho e iria rejuvenescendo até retornar ao útero materno, lugar mais aconchegante do mundo. Nada de terra, cemitério ou caixão. Morreríamos acolhidinhos por nossas mães – com a possibilidade, para alguns sortudos, de morrerem em plena amamentação. Além disso, os papéis se inverteriam, porque, em criança, seríamos pais dos nossos filhos já velhos. Talvez o mundo tivesse jeito. E o que é melhor: você já saberia mais ou menos quando iria morrer, porque à medida que o tempo fosse passando, o rejuvenescimento chegaria ao fim e adeus. Talvez nos acostumássemos mais com a ideia de morte, que chega sem avisar, sem mandar recado. O fato é que alguns prazeres começam ao contrário. Pensei que fosse só eu, mas a maioria das pessoas costuma ler revistas começando pela última página. São nas últimas páginas que estão as melhores notícias de uma revista. Adoro particularmente os assuntos relacionados à cultura, que geralmente são os temas de Veja, Istoé, Época. Acho até que as editoras deveriam lançar revistas já com os temas do final, no início. Evitariam o incômodo ato de folheá-las ao contrário. E também nem precisaríamos ouvir as mentiras da política e companhia ilimitada.
This entry was posted on 9 de dezembro de 2005 at 8:07 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
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