O Show da Vida
Camargo era um sujeito família. Amigo dos amigos, boa pinta, trabalhador. Mas desde criança influenciado pelo Fantástico. Tinha medo da voz do Cid Moreira, e até descobrir que o apresentador só servia para apresentar os feitos de um tal de Val Valentino, que usava máscara de listras, vestia-se de preto e atendia por um sugestivo nome de Mister M, passou a vida toda com pavor das notícias do Show da Vida, que ele considerava de morte.
Ainda criança, comeu o pão que o diabo se recusou a amassar. Escondia-se debaixo da cama toda vez que a revista eletrônica de domingo anunciava a queda do Skylab. Só sossegou quando o satélite americano caiu pras bandas da Austrália. Mesmo assim, temia que uma chuva de parafusos pudesse cair em sua cabeça a qualquer hora. Razão pela qual vivia sempre olhando pro céu.
Os coleguinhas diziam que Camarguinho —como era conhecido na escola— tinha um parafuso a menos. “Melhor um a menos do que muitos a mais”, respondia de pronto.
— O Fantástico disse que o mundo não passa do ano 2000 — falava pros amiguinhos.
— Passou no Fantástico que vai ter a Terceira Guerra Mundial...
— Eu vi ontem o Cid Moreira dizendo que a Terceira Revelação de Fátima é a morte do Papa num-sei-o-quê...
Com o tempo, Camargo viu que as notícias do Fantástico não eram tão fantásticas assim. Atravessou o ano 2000, o terceiro segredo de Fátima não foi lá essas coisas e a Terceira Guerra Mundial ainda não resolveu acontecer.
Percebeu também que o programa servia apenas para os apresentadores se exibirem —um ex-VJ se achar amigo das celebridades internacionais e uma jornalista presentear cantoras e mostrar o subdesenvolvimento brazuca diante de estrelas—, nada mais que isso. Mas estranhamente ainda tem medo do domingo à noite. Detesta a “Musiquinha do Fantástico” e tem pavor quando o programa acaba. Fica melancólico diante da televisão, sem ação, vendo os créditos subirem na tela sob a tal música.
Para ele o mundo acaba, a ficha cai e ele lembra dos parafusos do Skylab sobre a cabeça. E não há Segredo de Fátima que explique o porquê.
Vai dormir de baixo-astral, para começar sua guerra particular no trabalho, onde permanece em conflito durante toda a semana, até chegar domingo e tudo se repetir. Com a trilha sorona do Show da Vida.
Ainda criança, comeu o pão que o diabo se recusou a amassar. Escondia-se debaixo da cama toda vez que a revista eletrônica de domingo anunciava a queda do Skylab. Só sossegou quando o satélite americano caiu pras bandas da Austrália. Mesmo assim, temia que uma chuva de parafusos pudesse cair em sua cabeça a qualquer hora. Razão pela qual vivia sempre olhando pro céu.
Os coleguinhas diziam que Camarguinho —como era conhecido na escola— tinha um parafuso a menos. “Melhor um a menos do que muitos a mais”, respondia de pronto.
— O Fantástico disse que o mundo não passa do ano 2000 — falava pros amiguinhos.
— Passou no Fantástico que vai ter a Terceira Guerra Mundial...
— Eu vi ontem o Cid Moreira dizendo que a Terceira Revelação de Fátima é a morte do Papa num-sei-o-quê...
Com o tempo, Camargo viu que as notícias do Fantástico não eram tão fantásticas assim. Atravessou o ano 2000, o terceiro segredo de Fátima não foi lá essas coisas e a Terceira Guerra Mundial ainda não resolveu acontecer.
Percebeu também que o programa servia apenas para os apresentadores se exibirem —um ex-VJ se achar amigo das celebridades internacionais e uma jornalista presentear cantoras e mostrar o subdesenvolvimento brazuca diante de estrelas—, nada mais que isso. Mas estranhamente ainda tem medo do domingo à noite. Detesta a “Musiquinha do Fantástico” e tem pavor quando o programa acaba. Fica melancólico diante da televisão, sem ação, vendo os créditos subirem na tela sob a tal música.
Para ele o mundo acaba, a ficha cai e ele lembra dos parafusos do Skylab sobre a cabeça. E não há Segredo de Fátima que explique o porquê.
Vai dormir de baixo-astral, para começar sua guerra particular no trabalho, onde permanece em conflito durante toda a semana, até chegar domingo e tudo se repetir. Com a trilha sorona do Show da Vida.
This entry was posted on 24 de fevereiro de 2006 at 12:44 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Denise - 9:52 PM
Na realidade, as pessoas não mais se envolvem com os acontecimentos, parecem indiferentes. é necessário haver uma desgraça pra as pessoas acordarem. é uma lástima.
abraço, garoto
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