Que Nem Maré

Fico imaginando como era difícil fazer jornalismo antes da era da informática. Sem computador, internet ou qualquer outro instrumento que lhe facilitasse a vida, o profissional enfrentava uma verdadeira maratona para pôr os jornais nas ruas. Ponto para os precursores, que mostravam valentia e amor à profissão e ainda eram boêmios, característica que anda praticamente extinta nas redações alagoanas.

Quando ingressei no Jornalismo, há dez anos, a realidade era outra, embora não se dispusesse ainda de internet. Hoje fico imaginando como se praticava jornalismo sem internet, com as redações tendo o fax e o telefone como os únicos instrumentos que interligavam o jornal ao mundo lá fora.

Havia ainda a dificuldade de locomoção. No princípio, no meu caso, era apenas um carro para as equipes da redação. Então acontecia de duas ou três equipes se espremerem no mesmo veículo para ir à caça de matéria. Claro, o motorista tinha que se desdobrar para deixar todos pelo caminho e depois ir – com muita urgência – apanhando-os de volta. No final dava tudo certo.

Numa dessas aventuras, um dos nossos motoristas – o Dorgivan, profissional de extrema maestria, tino jornalístico (sim, porque para ser bom, o motorista precisa ter noção básica de jornalismo, sabendo literalmente correr atrás da notícia) – foi acionado pelo radioamador do carro (na época nem celular existia, e tínhamos que nos virar com um aparelho de radioamadorismo). Era o Edson Falcão – chefe de reportagem da época –, figura querida e profissional de mão cheia:

- Atenção, Dorgivan! Dorgivan, está na escuta?

- Pode falar, seu Edson.

- Preciso de um favor seu.

- Tô ouvindo.

- Preciso que você passe na Capitania dos Portos e apanhe a Tábua de Marés.

O motorista parou um momento, deu uma rápida olhada no interior do carro. Pensou e pensou e pensou antes de disparar:

- Seguinte, seu Edson. O caro tá cheio de gente e não tem bagageiro. Não tenho onde botar essa tábua aí não...

Até descobrir do que se tratava, o motorista teve que ir agüentando a algazarra dos passageiros.

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    # by Denise - 9:40 PM

    Cara, acho fascinante a carreira jornalística! eu me preparei a adolescência toda pra ser uma jornalista, mas, por uma guinada do destino, acabei ...
    abraço, garoto

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    # by Carlos Nealdo - 8:29 AM

    Oi, Denise! Estou sentindo a sua falta por estas bandas, viu?
    Ah, verdade, o jornalismo tem alguns fascínios...
    Beijos.

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    # by Yvette Maria Moura. - 9:45 PM

    Também sinto saudade desses tempos, meu amor. Tempos em que o jornalismo era feito com garra e idealismo...
    Entre as lembranças que trago, encontrar você no caminho (como canta Caetano), era sempre um motivo pra ganhar o dia...
    Te beijo.