A Enfermeira e o Delegado

Equívoco. Não sei o que acontece, mas vez por outra estou me deparando com um. E como sou péssimo em fisionomias, eles têm acontecido com freqüência de uns tempos para cá. Essa história de “eu lhe conheço de algum lugar” já ouvi pelo menos umas cem vezes. Aí, para não perder a graça, embarco na história. Mesmo sem conhecer o autor da frase. Enquanto converso, vou puxando na memória de onde conheço o sujeito e nada. Aí vou disparando palavras ao vento, tipo “há quanto tempo!”, “você por aqui” e “o que tem feito?”. Da última vez que isso aconteceu, passei mais de meia hora conversando com alguém que encontrei no corredor do prédio, enquanto tentava buscar na memória de onde o conhecia. Usei todas as frases feitas para estas ocasiões. Terminei com um “dê notícias”. Ele deu. No outro dia, descobri que o tal estranho era o porteiro da Tribuna, que abria o portão pra mim todos os dias. O pior é quando o equívoco se dá pelo telefone. Dia desses, precisei entrevistar um delegado. Liguei para um número e eis que atende uma mulher, que vim a saber ser enfermeira de UTI:

- Esse número não é mais dele. Aliás, até queria ter oportunidade de falar com ele, porque tem um monte de recado pra ele. Você o conhece?

- Bom, não o conheço. Aliás, este era o único contato que eu tinha dele.

- Pois então não tem mais.

- Que pena.

- Também acho. Até porque acho que esse delegado deve ser interessante.

- Por quê?

- Ah, tem um monte de gente ligando pra ele. Mulher, inclusive.

- Ah, mas isso é normal. Ele é delegado...

- Normal nada. Tem uns recados que eu tenho vergonha até de falar...

- Fala.

- Não, não. Os recados são pra ele. E, além disso, tenho vergonha.

- Tudo bem.

- Ah, mas queria conhecê-lo.

- Acho que você está encantada só de receber ligação pra ele...

- Bom, eu sou solteira. Quem sabe ele não é também?

Cortei o assunto. Tinha que tentar encontrar o meu entrevistado. Com algum esforço, consegui falar com ele por telefone. E, movido por uma ambição de Cupido, voltei a ligar para a enfermeira:

- Você é maluco! Estou na UTI!

- Mas está em pé. Pior é quem está aí deitado.

- Mas não posso falar.

- Bom, liguei só pra dizer que transmiti o seu recado.

- Obrigado, mas tenho medo dessa história. Tem muita gente atrás desse delegado.

- Tem perigo não. O perigo é quando o delegado está atrás de muita gente.

Ela agradeceu e se despediu. Fiquei imaginando se ambos se encontrariam algum dia. Casados, quem sabe. Desisti. Temi que eles resolvessem me presentear com uma estadia na UTI ou na delegacia.

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    # by Anônimo - 5:42 PM

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk será que eles teriam coragem de te dar um presente de grego desses????? Beijo Neo

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    # by Lenilda Luna - 8:49 AM

    Esse Nealdo!!! Só mesmo voce para ser cupido de um delegado que recebe recados indecentes e uma enfermeira que só pode gostar de viver sob risco constante kkkkk