Há males que vem para bem

Sou péssimo motorista e detesto dirigir. Mais ainda: não entendo nada de mecânica de automóvel. Vela pra mim é algo que se acende pra pagar promessa ou pra procurar algo no escuro – Nem sabia que tinha esse troço dentro dos veículos. Pra quê velas em tempos de raio laser?

Outro dia, meu carro apresentou problemas. De repente, a luz da temperatura começou a acender. Parei no primeiro posto e pedi para verificar água e óleo (duas palavrinhas mágicas que aprendi com a velhice. Não minha, mas do veículo).

Precisava entregar uns filmes a minha filha, que me aguardava há um bom tempo. Então segui “viagem”, sempre olhando pra luzinha da temperatura. Só desviei o olhar quando enxerguei a minha frente, lá na linha do horizonte, uma fumaça branca. Por um instante achei que o mar estivesse pegando fogo. Só vim dar conta que a fumaça saía do motor quando já não enxergava nada a frente.

Desesperado, sem saber o que fazer, fui entregar os filmes a Isa. Cheguei nervoso e ela percebeu que não estava bem. E ficou mal. E eu fiquei péssimo. Pedi desculpas e voltei para o problema.

No meio do caminho percebi que não valia a pena deixar minha filha daquele jeito, por um carro. Não devia ser nada grave. E mesmo que fosse, oras! Na pior das hipóteses, venderia o veículo para o programa de combate à dengue. Daria um ótimo Fumacê.

Voltei para ficar com a minha filha. Naquele momento, um abraço era tudo o que eu precisava. Ganhei mais do que isso, porque junto com um aperto dos bracinhos miúdos, veio um sorriso gigante de felicidade.

- Filha, desculpa pelo nervosismo do papai. Vem cá... você me perdoa?
- Claro né, pai! Seu carro está quebrado. E você não vai ter como ir pro trabalho.

Fiquei em silêncio diante de tanta compreensão. Resolvi tirar onda da situação.

- Vamos com o papai ver o Fumacê da Volkswagen! Deve tá assim de mosquito da Dengue pertinho dele!

Ela adorou a idéia. Não achou nenhum mosquito, mas bem que procurou. As duas horas que se seguiram até o guincho aparecer foram de brincadeira. No outro dia pela manhã liguei para, mais uma vez, tentar me redimir pelo nervosismo da véspera. Atendeu uma voz suave do outro lado.

- Alô?
- Oi, filhinha.
- Bom dia, pai. Tu tá onde?
- Estou indo trabalhar.
- De quê?
- De táxi.
- Ah, tá.
- Papai ligou para dizer que conversou com Deus, para agradecer o presente que Ele me deu. Disse pra Ele que você é o maior tesouro que alguém pode encontrar nesta Terra...

De repente, do outro lado, uma vozinha de criança envergonhada me chamou a atenção:

- Pai, fala baixo pro taxista não ouvir.

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    # by Anônimo - 3:34 AM

    Ela gostou do fumacê foi?????? Conseguiu vender o carro pra o combate à dengue????? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Beijos Neo