Um livro de au-auto-ajuda
Não sou muito chegado a animais de estimação. Quem me conhece sabe que a única espécie que ainda cogitaria em ter é um papagaio. Por vários motivos. Principalmente pela capacidade que essas aves têm de imitar a voz humana. Recentemente, um casal deles apareceu no meu quintal, para meu desespero. Antes das cinco da manhã já começava um barulho infernal que não me deixava mais dormir. Foi assim durante longos incansáveis dias. Até que tentei prendê-los, mas sou leigo em captura de animais silvestres – que me perdoe o Ibama, mas se havia uma coisa que eu queria solto, era o meu sono. Pedi conselhos a amigos para saber como proceder na minha empreitada, até que a Arquilene, expert no assunto, me disse tudo sobre as aves. O que comiam, como reconhecer fêmea e macho etc. Desisti depois de saber que os papagaios se alimentam melhor do que eu. O jeito foi me adaptar ao barulho e tentar dormir depois que os infelizes começavam a namorar – sim, imagino que aquele escarcéu só podia ser resultado de atos libidinosos. Não será estranho se, com o tempo, aparecerem filhotes de papagaio gritando junto com os pais, para o meu desespero. Admiro quem gosta – e tem – animais de estimação. Invejo a relação de cães com seus donos. Chama-me a atenção a fidelidade que há entre ambos. Fico analisando, por exemplo, os cuidados que a minha filha tem com a sua cadelinha, uma poodle sapeca que costuma aprontar quando menos se espera. No início, chamava-se apenas Lalá, mas foi ganhando outros nomes à medida que aprontava alguma das suas. Com menos de um ano de idade, ela já tinha um nome quase do tamanho do de Dom Pedro I. Só não é tão importante quanto. Importante para a história do Brasil, fique-se claro. Difícil é chamar a sua atenção quando ela faz algo errado. Confesso que desisti na metade do nome: Lalá Bola de Pelo Dentinho Come Tudo Carrapateira e por aí vai (é bem provável que até você terminar de ler essa crônica ela ganhe mais uma alcunha). Recentemente, numa dessas viagens a trabalho, resolvi entrar numa livraria de aeroporto, enquanto esperava a hora do embarque. Depois de folhear revistas, checar os últimos lançamentos, decidi comprar um livro para as duas (Isa e Lalá). Chamava-se “97 Maneiras de Fazer seu Cachorro Sorrir”, de Jenny Langbehn. E, como o próprio título sugeria, trazia quase uma centena de dicas de deixar o melhor amigo do homem feliz. Lemos, eu e a minha filha, as primeiras dicas juntos. Ela ficou feliz com o presente e fez questão de mostrar à cadelinha. Leu sozinha a primeira das 97 dicas: “Para fazer seu animal sorrir, faça carinhos de punhos cerrados por trás das orelhas dele”. Guardou o livro e foi brincar com a Lalá Bola de Pelo Come Tudo... Alguns dias depois, recebo uma ligação dela no trabalho. Voz chateada no outro lado da linha, quase chorando, extremamente contrariada. Fiquei preocupado e tentei descobrir o que se passava:
- Pai, eu tô fazendo carinho com a mão fechada atrás da orelha da Lalá e ela não quer sorrir...
- Pai, eu tô fazendo carinho com a mão fechada atrás da orelha da Lalá e ela não quer sorrir...
This entry was posted on 30 de junho de 2006 at 7:49 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Anônimo - 3:39 AM
Essa de Dom Pedro foi ótima kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk só você mesmo Neo. Que presente mais fofo pra Isa. Além de ensinar como se fazer pra Lalá carrapateira sorrir aínda incentiva a Isa a ler. Beijoooooooooooooooooooo
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