Anotações para uma ‘biografeia’ (ou traços não muito bonitos da minha vida)
Demorei nove meses para vir ao mundo – tempo suficiente para juntar as economias e pegar a reta celeste. Como não tinha dinheiro suficiente, viajei numa cegonha de quinta categoria, que me despejou numa cidade pequena de um Estado pequeno de um País enorme. Menos mal, tivesse eu viajado na primeira classe de um American Airlines poderia ter batido com a cabeça na parede do World Trade Center.
Trago de herança uma timidez gaiata – timidez por parte de mãe e gaiatice do gene paterno – e algumas contas a pagar que sempre me intimidam. Mas carrego da infância a cara lisa dos devedores, curtida no óleo da perobeira, que é madeira de lei. Minha mãe costumava dizer que eu era uma criança de berço. E confesso que até passar para a cama, demorei algum tempo. Hoje durmo em qualquer lugar. Para mim, caiu na rede é sono.
Cresci e ganhei o mundo num sorteio do jogo do bicho. O resultado é que hoje, para sobreviver, tenho que matar um leão por dia. Confesso que de vez em quando dá zebra. Quando isso acontece, viro uma fera, embora não costume soltar os cachorros em ninguém. Sei que às vezes é necessário que a vaca vá pro brejo. Bom mesmo é saber que sempre haverá brejos e vacas.
Por força do destino deixei o interior e vim morar na capital, embora, no meu íntimo, desejasse permanecer perto das minhas raízes (e tinham muitas, inclusive as comestíveis, que eu inhamo). Inspirado na vida das pessoas das pequenas cidades – que passam parte do tempo espiando o mundo através da janela – resolvi ser contador de causos. Alguns reais, outros absurdos. Todos, no entanto, verdadeiros.
Dentro das regras da vida – que limitam a felicidade a plantar uma árvore, publicar um livro e ter um filho – eu sou uma exceção. A filha Deus tratou de me presentear (e juro que foi um dos presentes mais amáveis!). Atualmente corro atrás de publicar um livro de bolso que, por falta de dinheiro – no bolso – deve permanecer guardado. Mas nesse meio tempo, plantei um bonsai, que dá mais trabalho, mas é menor do que uma árvore e eu posso levar pra qualquer lugar.
Passadas três décadas e meia, continuo amarrado a um tal de cordão umbilical, fino a ponto de não se ver e resistente a ponto de não partir. Não raro, sinto saudade da minha casa, onde me criei à base de cuscuz com ovo e café preto, quitutes que têm gosto de infância e cheiro de nostalgia.
As esquinas da vida me deram duas opções: sorrir ou chorar. Escolhi a terceira, porque não sei contar. Mas eu conto. E vou seguindo até encontrar a filha da mãe da cegonha que me atirou lá de cima, sem pára-quedas nem nada, me deixando um galo na testa e o quengo mole.
Trago de herança uma timidez gaiata – timidez por parte de mãe e gaiatice do gene paterno – e algumas contas a pagar que sempre me intimidam. Mas carrego da infância a cara lisa dos devedores, curtida no óleo da perobeira, que é madeira de lei. Minha mãe costumava dizer que eu era uma criança de berço. E confesso que até passar para a cama, demorei algum tempo. Hoje durmo em qualquer lugar. Para mim, caiu na rede é sono.
Cresci e ganhei o mundo num sorteio do jogo do bicho. O resultado é que hoje, para sobreviver, tenho que matar um leão por dia. Confesso que de vez em quando dá zebra. Quando isso acontece, viro uma fera, embora não costume soltar os cachorros em ninguém. Sei que às vezes é necessário que a vaca vá pro brejo. Bom mesmo é saber que sempre haverá brejos e vacas.
Por força do destino deixei o interior e vim morar na capital, embora, no meu íntimo, desejasse permanecer perto das minhas raízes (e tinham muitas, inclusive as comestíveis, que eu inhamo). Inspirado na vida das pessoas das pequenas cidades – que passam parte do tempo espiando o mundo através da janela – resolvi ser contador de causos. Alguns reais, outros absurdos. Todos, no entanto, verdadeiros.
Dentro das regras da vida – que limitam a felicidade a plantar uma árvore, publicar um livro e ter um filho – eu sou uma exceção. A filha Deus tratou de me presentear (e juro que foi um dos presentes mais amáveis!). Atualmente corro atrás de publicar um livro de bolso que, por falta de dinheiro – no bolso – deve permanecer guardado. Mas nesse meio tempo, plantei um bonsai, que dá mais trabalho, mas é menor do que uma árvore e eu posso levar pra qualquer lugar.
Passadas três décadas e meia, continuo amarrado a um tal de cordão umbilical, fino a ponto de não se ver e resistente a ponto de não partir. Não raro, sinto saudade da minha casa, onde me criei à base de cuscuz com ovo e café preto, quitutes que têm gosto de infância e cheiro de nostalgia.
As esquinas da vida me deram duas opções: sorrir ou chorar. Escolhi a terceira, porque não sei contar. Mas eu conto. E vou seguindo até encontrar a filha da mãe da cegonha que me atirou lá de cima, sem pára-quedas nem nada, me deixando um galo na testa e o quengo mole.
This entry was posted on 18 de agosto de 2006 at 7:46 PM. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.
# by Anônimo - 11:12 AM
Eu conheço esse texto... Tá modificado mas eu lembro simmmmmm. Era seu texto de apresentação não era?????? Beijooooooooooooooooooo
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