Ócio do Ofício


No livro O Ócio Criativo, o sociólogo italiano Domenico De Masi propõe uma interação entre trabalho, tempo livre e estudo em contraponto ao modelo social centrado na idolatria do trabalho - aquela em que o cidadão acorda para ir trabalhar e dorme para ir trabalhar. A ideia do autor é a de que deveríamos concentrar nossas potencialidades no tempo livre, já que é onde passamos a maior parte dos nossos dias. Recentemente, em entrevista a uma revista brasileira, ele citou o carnaval do Rio de Janeiro como modelo de empresa a ser seguido. “O Carnaval do Rio representa a empresa do futuro: aquela na qual convivem, de forma sinérgica, o trabalho, o conhecimento e o divertimento”. A meu modo, elaborei – e sempre tento pôr em prática – a minha teoria de ócio criativo, que é a de aproveitar cada minuto do meu tempo livre para fazer algo produtivo e – mais do que isso - prazeroso. No supermercado, por exemplo, já não perco mais tempo na fila, esquentando a cabeça enquanto espero a hora de ser atendido. Antes de me dirigir ao tormento, apanho uma revista e enfrento o engarrafamento de carrinhos de compras lendo os fatos que marcaram a semana. Com isso, a ida ao supermercado se tornou menos penosa. Ler nas filas se repete em outras ocasiões, como a ida ao banco ou ao consultório médico, onde sempre levo um livro para fugir das enfadonhas e velhas revistas de fofoca. Não por acaso, no meu banheiro tem sempre um livro à mão. E tenho amigos que também são adeptos da prática. Quando Gabriel Garcia Marquez lançou Memórias de minhas putas tristes, o Léo Villanova foi o primeiro a me recomendar a obra. “Em duas idas ao banheiro você ler. E se estiver com dor de barriga, basta uma”, disse. Há quem ache anti-higiênico dispor livros no banheiro. Eu discordo. Não há melhor higiene mental do que se entreter com uma boa leitura. Não é à toa que a empresa japonesa Hayashi Paper Corp teve a brilhante ideia de lançar um conto de terror num rolo de papel higiênico – que deve ser lido antes do uso, claro. “É como um produto normal. A diferença é que a pessoa pode ler uma história antes de usar o papel”, disse Hiroshi Nakajima, chefe de vendas da fabricante de papéis. A missão de escrever a história coube ao escritor Koji Suzuki, autor da trilogia Ring, que deu origem ao filme O Chamado, sucesso em japonês e na versão americana, porque, como se sabe, o medo é universal – e grito de terror não carece tradução. No conto, que deve ocupar 90 cm do papel e depois se repete ao longo de seus 30 metros, o escritor lança mão de uma superstição japonesa que fala de espíritos e fantasmas que habitam os banheiros. Eu achei o argumento uma merda, mas haverá quem goste, por certo. E juro que ainda fiquei com uma dúvida: o leitor vai ao banheiro para ler a história ou ler a história e se "borrar" de medo?

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    # by Léo Villanova - 6:35 PM

    Esse livro é o ideal pra ler depois de uma bela feijoada.